A Feira das Trocas é realizada em cima da ciclovia da Avenida Tancredo Neves
Falta de rede cicloviária compromete uso da bicicleta
Publicado em 19 de outubro de 2014
Por Jornal Do Dia
Kátia Azevedo
katiaazevedo@jornaldodiase.com.br
A bicicleta como alternativa de transporte das cidades ambientalmente sustentáveis sempre integrou a ideia de programas de governo. Entretanto, na prática, a falta de uma estrutura viária adequada para este tipo de modal ainda representa um dos grandes desafios para a concretização de um projeto de mobilidade urbana.
De acordo com avaliação do presidente da Organização Não-Governamental (ONG) Ciclo Urbano, Luciano Aranha, a cidade, enquanto ambiente de uso coletivo, deve viabilizar o acesso de um meio de transporte que deve ser dividido democraticamente, priorizando o sistema viário, considerando respectivamente, as pessoas com restrição à mobilidade, o pedestre, o ciclista, os meios de transportes coletivos e finalmente o transporte individual motorizado.
"Hoje se pode afirmar que a importância da bicicleta cresceu ao olhar dos planejadores urbanos e de transportes, mas está muito aquém das suas possibilidades. Em Aracaju vemos que ainda está longe o dia em que poderemos comemorar o centésimo quilômetro de ciclovia implantado na capital sergipana. Temos observado esforços como os da Cidade de São Paulo que independente de ser uma grande cidade, vem implantando uma malha cicloviária que pretende dotar a cidade com um sistema cicloviário de mais de 400 quilômetros até o final da gestão Haddad (Fernando Haddad, prefeito de São Paulo), e há dezenas de cidades com implantações nessa direção", ressalta.
Em relação a quantidade de áreas viárias destinadas a circulação de bicicletas em Aracaju, Luciano Aranha informa que a capital sergipana possui cerca de 60 km de ciclovias, número que pode aumentar com a criação de ciclorrotas. "Que nada mais é do que uma rota ciclável constituída entre um par de origem/destino, interligado por vias com tráfego lento ou forçosamente acalmado. De uma forma geral a ciclorrota tem por objetivo servir de opção de ligação nas viagens dos ciclistas no meio urbano. Ou seja, não se trata apenas de uma ligação qualquer como complemento da rede cicloviária, mas sim construir uma rota capaz de ajudar os ciclistas em seus deslocamentos para diferentes destinos da cidade", explica.
Luciano Aranha lembra que a utilização crescente da bicicleta nas cidades está relacionada também a mudanças sociais e econômicas que impuseram uma nova forma de se pensar a organização urbana.
Luciano Aranha, presidente da Ciclo Urbano, destaca que uma das grandes transformações resultantes destas mudanças é o processo de urbanização que o mundo vive, notadamente os países em desenvolvimento, colocando demandas sociais e problemas ambientais muito além da capacidade dos estados em resolvê-las de forma isolada. "No campo dos transportes púbicos o que se vê hoje na maioria das cidades grandes e médias do Brasil é um momento de transição em que se nota uma desregulamentação dos sistemas existentes onde modais como o ônibus perde a demanda, com a baixa produtividade (medida entre passageiros transportados e distância rodada)", enfatiza.
Neste contexto o presidente do Ciclo Urbano ressalta que o transporte clandestino está presente em várias cidades brasileiras acima de 300.000 habitantes, o que para ele mostra a gravidade da questão.
"Dentro desse marco referencial se pretende colocar a questão da bicicleta, levando em conta os caminhos que são postos pela ONG Ciclo Urbano como os mais prováveis para enfrentar os grandes desafios inerentes ao transportes e ao trânsito da nossa cidade, que na verdade se apresentam como os pressupostos, para que se formule políticas públicas específicas e exitosas, pressupostos como a percepção de setores da sociedade que começam a clamar por uma nova cultura da mobilidade que de prioridade a formas de circulação coletivas, a pé e de bicicletas integrando em rede os diversos modos de transportes e garantindo a acessibilidade segura e confortável a todos os pontos das cidades", cita.
Mapeamento – Em abril de 2013, a ONG iniciou um levantamento sobre a quantidade de ciclistas presentes em diversos pontos da cidade e a partir da interpretação dos dados recolhidos, a equipe passou a perceber a real necessidade da implantação de políticas públicas que promovam melhorias na infraestrutura cicloviária da cidade de Aracaju.
Com o levantamento, a Ciclo Urbano tem como objetivo subsidiar informações relevantes através de dados estatísticos, baseados em metodologias científicas adotadas por pesquisadores, instituições públicas e ONG´s sobre a demanda de fluxo de ciclistas e quais os caminhos percorridos pelos mesmos.
Luciano Aranha explica que a metodologia de Aplicação da Contagem de Ciclistas é realizada com o preenchimento da planilha que contém a área delimitadora das direções, sentidos de chegada e de saída do ciclista no local da pesquisa.
Seguindo a metodologia, a contagem também coletou informações complementares como o tipo de bicicleta (cargueira, serviço e normal), o uso de capacete, se o ciclista leva um carona e o gênero do ciclista.
"A contagem manual nos permite quantificar e, observar vários itens correspondentes ao deslocamento por bicicletas assim como o comportamento dos ciclistas que transitam pela região, facilitando assim, a adoção de medidas e ações. Temos observando a existência de "picos" entre os horários entre 6h00
e 8h00 da manhã e entre às 17h00 e as 19h00. Este fluxo justifica-se pelo uso da bicicleta para o deslocamento, casa/trabalho e trabalho/casa, já que o principal indutor de mobilidade tanto para automóveis como para bicicletas na cidade de Aracaju concentra-se neste horário e para este fim", detalha.
Segundo Luciano Aranha, a ONG tem constatado uma grande quantidade de usuários de bicicleta que
fazem o seu deslocamento trabalho-casa/casa-trabalho e observa-se que não há infraestrutura cicloviária e de sinalização para ciclistas e pedestres expondo os mesmos a riscos de acidentes no seu percurso.
"A Ciclo Urbano acredita que o motivo para esse grande número de utilizadores de bicicleta existe pela má qualidade do transporte público que é oferecido, assim como pela economia financeira que a bicicleta proporciona", comenta.
Ele destaca que esta abordagem reforça que cada vez mais o poder Público Municipal em parceria com os demais órgãos responsáveis, deve buscar novas formas de intervenção a fim de melhorar a infraestrutura cicloviária de Aracaju, já que os estudos têm constatado que existe demanda por parte dos usuários.