FOME E DESIGUALDADE NO BRASIL (V)
Publicado em 08 de julho de 2023
Por Jornal Do Dia Se
* Manoel Moacir Costa Macêdo e Pedro Abel Vieira
O Brasil é um dos raros países do planeta com recursos naturais suficientes para produzir comida para os seus nacionais e exportar excedentes para o mundo. Não é redundante repetir a disponibilidade de sessenta milhões de hectares que podem ser incorporados à produção, sustentar o crescimento e não desmatar novas áreas. A mesma quantidade de terra em produção agropecuária. Não se trata de futurologia, mas de projeções concretas. Inexoravelmente seremos o maior produtor e exportador mundial de commodities agrícolas.
Além da abundância de recursos naturais, a exemplo de terra e água, o Brasil dispõe de energia limpa, baseada na hidrologia, riqueza solar tropical e potencial eólico. Dispõe de biomas e biodiversidade estratégica. Realidade concreta e positivista. Um exemplo, é o caso da cultura do milho, alimento e commodity num só tempo. Na região Nordeste, onde 40% da população está em insegurança alimentar, existe a ímpar possibilidade de três colheitas anuais desse cultivo.
Afora às potencialidades naturais à produção agropecuária, o Brasil dispõe de potencial mercado consumidor com a demanda reprimida. O crédito para o financiamento das safras agrícolas tem sido suficiente à demanda dos grandes tomadores. Também dispõe de suporte de tecnologia e inovação, liderada há meio século pela EMBRAPA – Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária. Vitoriosa história organizacional, que carece de ajustes no seu mister institucional para suportar às demandas das diversas agriculturas, do meio ambiente e de consumidores exigentes desse novo tempo.
As evidências revelam a necessidade de uma nova trajetória tecnológica para à produção agropecuária brasileira, que privilegie a diversidade dos fatores de produção às diversas agriculturas. Não existe acolhimento do linear produtivismo, agressão aos ecossistemas, contaminação do meio ambiente e dos alimentos e trabalho análogo à escravidão. Tempo de mudança de paradigma.
Nessa contingência, é imoral para um País com tamanha grandeza, a convivência com a persistente fome e insegurança alimentar de brasileiras e brasileiros. Esses constrangimentos ferem os valores humanistas da civilização. Não é natural o acolhimento da chaga mortal da fome num País predominantemente cristão, que exporta comida para o mundo e despreza os seus naturais. Isso não é castigo e nem determinismo divino, mas pecado humano.
As condições da natureza à produção agropecuária estão garantidas. Os fatores de produção estão disponíveis. Os potenciais consumidores demandam alimento. Faltam as intervenções do Estado, como a organização mais relevante da sociedade para equilibrar as relações entre produção, distribuição e consumo. Apenas o Estado agrega de maneira exclusiva os poderes para interferir no viver das criaturas.
O necessário e urgente são políticas públicas que possibilitem de um lado a incorporação dos agricultores pobres à produção, consumo e comercialização de excedentes. Do outro, emprego e renda para uma massa de vulneráveis nas cidades, desprotegidos de seguridade social e de recursos, para comprar comida suficiente, seguindo os padrões das dietas apropriadas.
Não são ações impossíveis, mas viáveis, algumas delas executadas com êxito no passado recente. Elas exigem pressa e adequações no devido tempo e espaço, pois “a longo prazo, estaremos todos mortos”.
* Manoel Moacir Costa Macêdo e Pedro Abel Vieira são engenheiros agrônomos