Inácio, meu filho…

Rian Santos
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Inácio, o meu filho, há de nascer forte e saudável, como convém a todo menino, ainda mais a um menino ariano, virado num raio, num piscar de olhos, na primeira quinzena de abril.
Eu o aguardo a minha vida inteira, no entanto. Por ele eu erro, eu falho, eu caio. Por Inácio, enfio o pé na lama, coberto de vergonha. Por meu filho, suporto a cruz.
Sei dos dedos apontados para a minha cabeça, das línguas ferinas, do julgamento moral. Eu e a mãe de Inácio nos separamos durante a gestação, após onze anos de convívio. Mais das vezes, a incompreensão redunda em violência, apedrejamentos. “Filha do medo, a raiva é mãe da covardia”.
Suporto tudo, até os adjetivos cruéis de pessoas queridas. Desde que o meu filho cresça feliz da vida, cercado de amor, sem saber de confrontos e bate boca, como convém a todo menino, ainda mais a um menino ariano, virado num raio. Por meu filho, como o pão que o diabo amassou.
Inácio jamais saberá deste artigo, eu espero. Não sou capaz de antecipar como a sua história será contada pelas pessoas em volta. Mas estarei de pé, a seu lado, firme e forte, disposto a tudo, como convém ao pai de todo menino, ainda mais um menino ariano, virado num raio – desde sempre, até o fim.