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Longe demais das capitais


Publicado em 25 de julho de 2012
Por Jornal Do Dia


Linguagens em trânsito

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br

As estradas são aventuras humanas, caminhos rasgados a golpes de faca na geografia de nossas vontades. Eu quero seguir. Eu posso mais. Eu vou além. A determinação necessária para sangrar os destinos, herança de ambições ancestrais, não difere do esforço realizado pelo primeiro galo do subúrbio. O susto de seus pulmões acende o calor azul do céu e um deslumbramento iluminado toma conta de tudo. O galo canta pra encontrar um lugar no mundo.

Para acordar o homem, contudo, não basta um passe de mágica. O olhar viciado em cimento e hábito afaga as paredes erguidas em torno do seu próprio umbigo. Por isso as pessoas viajam, feito bandeirantes dispostos ao desconforto do inesperado. Por isso a equipe de Êxodo (a artista visual Gabi Etinger, o fotógrafo Victor Balde e o jornalista que vos escreve, agregado afetivo do projeto) comeu poeira e calor na BR 101. Paisagens, personagens e histórias estranhas ao trajeto ordinário de todo santo dia apontavam a rota pretendida.

Êxodo – A mostra que a galeria do Sesc Centro abriga a partir dessa sexta-feira, 27, uma ousadia de Gabi e Balde, é fruto da intuição. Eles adivinharam no deslocamento geográfico uma oportunidade de ampliar horizontes, descobrir significados e exercitar o olhar usualmente condicionado pelo universo urbano das grandes cidades.

A interferência da xilogravura sobre a fotografia revela e duplica, aqui, a intenção manifesta de buscar nos menores municípios sergipanos (Riachuelo, General Maynard, Pedrinhas, Carmópolis e Amparo do São Francisco) a magnitude insuspeita pela timidez pontilhada no mapa.
Nas palavras de Silvane Azevedo, responsável pela curadoria da mostra, Êxodo pode ser resumida como um esforço de investigação estética e sociológica.

"Êxodo não somente na linguagem, mas também na proposta, emigrar o olhar para cidades do interior sergipano, sair do urbano para o rural. Debruçar-se com lupas sobre cenários, até então não ampliados. Estes, escolhidos e selecionados pelos artistas em questão, talvez por sua dimensão territorial, supostamente as menores, reveladas e representadas por outro ângulo".

Inusitada, a proposta já suscitou a reflexão da inteligência local. Autoridades da estirpe do crítico Antônio da Cruz, dos artistas Fábio Sampaio e Elias Santos, além da pesquisadora de poéticas visuais Ana Carolina e dos profissionais do Trotamundos Coletivo, responderam à provocação de Êxodo em artigos cuidadosos, publicados no blog do projeto (projetoexodo.com).

A artista visual Gabi Etinger explica que vislumbrou na hibridação entre fotografia e xilogravura um novo desafio. "A minha paixão pela xilogravura, o impacto do contraste maravilhoso entre preto e branco, não me permitem restringir o seu campo de atuação. As possibilidades abertas pelas experiências da arte contemporânea sempre me pareceram muito adequadas à exploração da xilo enquanto linguagem artística, passível, portanto, de um diálogo com todas as formas de olhar que permeiam os nossos dias".

O fotógrafo Victor Balde, por sua vez, acolheu o convite para tomar parte no projeto como uma oportunidade de reencontrar as motivações que lhe aproximaram das lentes. "Desde a minha primeira experiência, quando visitei um acampamento do MST em Malhador, a fotografia surgiu com duas características muito fortes: a proximidade com as pessoas e a exploração de lugares novos. Não fosse a fotografia, eu nunca teria sentado numa roda de amigos do movimento Sem Terra pra jogar conversa fora. Aprendi a ouvir mais, me encantei com histórias de vida. Êxodo me deu a chance de pegar a estrada, novamente".

Vernissage de Êxodo- Dia 27 às 19h

Local: Galeria do Sesc Centro
Período de visitação: 30 de julho a 24 de agosto
Hora: 10 às 19 horas

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