(NÃO) OLHE PARA CIMA
Publicado em 08 de janeiro de 2022
Por Jornal Do Dia Se
Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos
Na última semana de dezembro, uma pessoa postou no perfil de seu Instagram que um cometa iria se chocar com a terra no dia 27 e ela estava convicta disso por conta de sua religião que assim preconizava com base nos textos do Apocalipse. Como cristão, a afirmação me causou estranheza e curiosidade. Estranheza porque não há dados concretos para isso, nem mesmo na referida profecia. Curiosidade porque fui instado a antecipar a assistência do mais novo sucesso da Netflix exatamente para aquela “fatídica” data, aliás, antes da meia noite, caso o mundo de fato se acabasse com aquele agouro.
Pois bem, o mundo ainda não acabou e tão pouco pela colisão com um cometa errante. Estamos vivos, não tão bem vivos, mas vivendo a experiência de um novo ano. O fato é que episódios como este dão a tônica no quê se transformou o nosso tempo. Dos antivacinas a toda uma sorte (melhor dizer azar) de coisas e situações que mostram a força do negacionismo e das fake news, ingredientes principais do filme “Não olhe para cima”.
Estrelado por Leonardo DiCaprio, Jennifer Lawrence, Kate Blanchett, Meryl Streep, entre outros, trata-se de uma sátira do tempo presente, sob a direção e roteiro de Adam MacKay. A trama gira em torno da descoberta de dois astrônomos, dando conta que em poucos meses um meteorito iria se chocar violentamente com o planeta Terra. Randall Mindy (Leonardo DiCaprio) e Kate Dibiasky (Jennifer Lawrence) iniciam, então, uma jornada hercúlea para alertar as autoridades para o risco que a humanidade corre e não são levados a sério porque o mundo está bastante ocupado com o tripé FAMA, DINHEIRO E REDES SOCIAIS.
O filme é de 2021 e nesse início de ano novo tem tido uma grande aceitação pública, gerando inúmeros e os mais variados debates. Entre o dilema de olhar ou não para cima diante da iminência clara do choque violento do meteoro com a Terra, as pessoas se dividem entre a VERDADE e o NEGACIONISMO. Uma pendenga que vem marcando o atual momento da humanidade e não muito diferente o Brasil também.
“Não olhe para cima” em poucos dias alcançou recordes de audiência na Netflix. Segundo o portal Omelete: “bateu o recorde de maior número de horas de stream para um título da Netflix”. E não é para menos, pois o choque do meteoro com a Terra é só o mote para uma série de questões que se avolumaram e se evidenciaram com a pandemia de COVID-19 e que estão entre as principais discussões do nosso tempo.
O filme chama a atenção, por exemplo, para a força que as redes socias alcançaram em nossas vidas e como elas podem definir o rumo das pessoas e a tomada de decisões importantes. Como uma verdade pode ser esfacelada por uma fake news e causar um estrago enorme em razão da desinformação. Nesse sentido, chama a atenção como as pessoas estão mais interessadas num reatamento de relacionamento entre famosos, depois de uma traição, do que ouvir dois cientistas dizerem, cientificamente, que a humanidade está prestes a ser extinta dentro de poucos meses.
Além disso, fica evidente como a função pública de um político se deteriora cada vez mais. Isto fica claro por meio da personagem de Meryl Streep, como presidente dos Estados Unidos, que ao invés de unir esforços tecnológicos para conter a trajetória do meteoro, move-se de acordo com as pesquisas de opinião pública, preocupando-se em se manter no cargo a todo custo. E assim, temos visto também com a nossa classe política. É bem verdade que nem todos os envolvidos, mas uma parcela significativa.
Por fim, “Não olhe para cima” é um convite para que possamos fazer uma reflexão profunda sobre a vida e sobre nosso comportamento. A decisão de olhar ou não para cima, para além de passar pela questão das liberdades individuais e do direito de ir e vir, também é a grande virada de nosso século e porque não dizer do destino de nossas existências. Os fatos estão aí e ficar com os olhos fincados em seu próprio egoísmo pode trazer efeitos danosos e irreversíveis para todos.