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No escuro


Publicado em 24 de fevereiro de 2022
Por Jornal Do Dia Se


Fábio Alessandro Rolemberg Silva

Nascemos em famílias pobres, somos de cor escura, ou mesmo clara, passamos por várias dificuldades. A falta de recursos nos leva a ter uma condição de vida que nos dá sensação de escassez, de lacuna, de falta. A escassez da alimentação com nutrientes capazes de suprir a confiança, a auto estima, a dignidade. A lacuna do carinho, da ausência, do acolhimento provocado pela falta de estrutura familiar. Sentimos a falta do que para todo ser humano devia ser normal, um abrigo, uma cama, um canto para nos dar a sensação de espaço. E aí crescemos, e vamos formando a nossa personalidade. Chegamos na fase escolar, e ir pra escola n é uma questão de escolha, e sim de oportunidade, pois pra ir pra escola é preciso do livro, do fardamento, do transporte, do lanche, de ter alguém pra acordar, arrumar, abastecer, orientar, pegar na mão e levar, de se ter a escola. Para muitos ter esses recursos é uma questão de sorte. Sem essa estrutura acabamos desistindo, é como ir num rio na direção contrária da água. É fatal, nos condenamos à subserviência, ao escravismo disfarçado, onde a falta nos leva a aceitar qualquer condição de sobrevivência. Como se fosse um favor, um posto de trabalho dado é questão de dependência, é passível de todos tipos de assédios. Temos que suportar e nos adaptar a isso. Na rua, frente a “sociedade” somos vistos diferentes, pelas nossas roupas, pelo nosso cabelo, pelo nosso transporte, pelas marcas que carregamos da nossa vivência. A única estrutura do governo que foi criada e que usufruímos é a da polícia, que tem como objetivo constitucional defender a sociedade, mas que funciona por preservar a sociedade de nós. Somos abordados de forma preconceituosa, criminosa, como ser pobre e preto fosse um defeito, somos tratados como bandidos, mesmo nos identificando como trabalhador. Mas, pra eles não é suficiente. E assim vamos vivendo, marginalizados, excluídos, sem direito, sem opção, apanhando na cara, tomando chutes. Sendo seres inferiores. Que triste isso.

Fábio Alessandro Rolemberg Silva, professor e pesquisador da Universidade Federal de Sergipe. Doutor em Física pela Universidade Federal de Sergipe, com experiência na área de Física.

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