Idioma de palhetadas certeiras
No passo alado das borboletas
Publicado em 14 de junho de 2013
Por Jornal Do Dia
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Eu deveria ser pago para escrever poemas, decretar domingos no meio da semana e derramar maracujá nas calçadas, perfumando quarenta metros de rua inteiros. Tenho vocação para escutar as histórias sem propósito dos mais velhos, procurar desenhos na forma difusa das nuvens, saborear as delícias de uma coceira. Ontem mesmo, um amigo postou o link de um acústico realizado pela Snooze no Espaço Cultural Yázigi quando eu contava 20 anos (https://soundcloud.com/snoozebr/snooze-desplugado-2000). Bastou apertar o play para ver a memória desembestada, atrás das borboletas.
Há quem acredite que a identificação de um trabalho com determinado intervalo no tempo, num lugar específico, é a única coroação legítima pretendida por um artista. Se for assim mesmo, os irmãos Fabio Oliveira e Rafael Jr (além dos guitarristas que tomaram parte nas diversas formações da Snooze) podem dar o próprio trabalho por cumprido. Não há outra banda que comunique com tanto feeling e honestidade a imaturidade adolescente de Aracaju naqueles idos. A minha turma se entendia num idioma de palhetadas certeiras.
Éramos geniais, àquela altura. Nós, os estudantes mais irresponsáveis dos cursos de comunicação social da Universidade Federal de Sergipe, vislumbrávamos no palco o reflexo de uma potência criativa que desdenhava de qualquer realização. Os magrelos da Snooze falavam pela gente.