Sergipe é aqui?

 

Não raro, os slogans adotados por gestores públicos abrem frestas para verdades inconvenientes. Quando o presidente JK pretendeu um salto de desenvolvimento e cunhou os famosos “50 anos em 5”, por exemplo, revelou aos mais atentos: ele não reconheceria eventuais obstáculos sociais, ambientais e políticos impostos ao próprio projeto de poder. Antes, passaria o trator por cima de tudo.

Em visita ao interior sergipano, o governador Fábio Mitidieri tem repetido “Sergipe é aqui”. A intenção mais evidente é óbvia: Mitidieri pretende descentralizar os recursos e projetos tocados pela administração estadual, historicamente concentrados na capital do estado. Revela, assim, no entanto, a ausência gritante do poder público, estado e municípios, nos quatro cantos de Sergipe.

Último fim de semana, eu meti o pé na estrada com um grupo de amigos, a fim de desafiar as previsões meteorológicas para curtir o sol e o mar na praia da Caueira. Até lá, um bom trecho de estrada sinuosa, com pavimento arruinado, obriga motoristas a uma variante motorizada de roleta russa. Bastaria um carro em sentido contrário, na altura e na hora errada, para acabar com a nossa festa.

Sergipe é aqui?, deve se perguntar um turista recém chegado, após os 300 KM de Linha Verde entre Sergipe e Bahia. Do lado de lá, estende-se um tapete macio de bom asfalto a todos os visitantes. Aqui, a fome de novas paisagens resta intimidada pela buraqueira.

Não me acanho, contudo. Tenho descoberto restaurantes excelentes, tenho molhado os pés à margem de rios pouco explorados por qualquer espécie de iniciativa, intocados, praias praticamente desertas. Há trilhas, grutas, cachoeiras e serras com o potencial de atrair muita gente para as lonjuras Serigy. A curiosidade é grande. Não há, entretanto, a cortesia dos caminhos abertos, falta gentileza.