O superintendente da SMTT, Nelson Felipe
FILA DE CARROS EM RUA DE ARACAJU: SUPERINTENDENTE DA SMTT CULPA EXCESSO DE VEÍCULOS E FALTA DE EDUCAÇÃO DOS MOTORISTAS POR PROBLEMAS
Publicado em 07 de dezembro de 2014
Por Jornal Do Dia
O superintendente da SMTT, Nelson Felipe
FILA DE CARROS EM RUA DE ARACAJU: SUPERINTENDENTE DA SMTT CULPA EXCESSO DE VEÍCULOS E FALTA DE EDUCAÇÃO DOS MOTORISTAS POR PROBLEMAS
Gabriel Damásio
gabrieldamasio@jornaldodiase.com.br
As ruas de Aracaju não são mais as mesmas de 20 ou 25 anos atrás, graças aos problemas do trânsito e da mobilidade urbana. Esta é a constatação de Nelson Felipe Silva Filho, um experiente policial rodoviário federal que assumiu, há cerca de dois anos, a missão de organizar o problemático trânsito da capital sergipana. À frente da Superintendência Municipal de Transportes e Trânsito (SMTT), ele conta que o trabalho é mais intenso por causa do contato direto com a população da cidade, que a todo momento faz cobranças por causa da falta de ônibus, do trânsito parado, do semáforo, das multas e de muitas outras coisas.
Nesta entrevista, Nelson Felipe aponta dois principais problemas: a falta de educação dos motoristas e o alto número de carros em Aracaju, que nos dias de pico, chega à inacreditável média de um carro por pessoa. "Imagine o que não se passa nessas ruas estreitas que nós temos, as avenidas que ainda possuem uma caixa pequena para esse tanto de veículos", diz Felipe, que fala também sobre projetos voltados para desestimular as pessoas a usarem o carro. Nesta lista, incluem-se os novos parquímetros do Centro e o BRT (Bus Rapid Transit), corredores exclusivos de ônibus que funcionarão como um "metrô sob rodas". Tais projetos devem começar a sair do papel a partir do ano que vem, conforme a previsão da SMTT.
Veja agora os principais trechos da entrevista, concedida a este repórter na quarta-feira passada:
DESRESPEITO
NO TRÂNSITO
"O trânsito de Aracaju é indisciplinado. A gente tem tentado um disciplinamento do trânsito com as nossas intervenções e o trabalho dos nossos agentes. Vemos aí muitas pessoas que desrespeitam deliberadamente as normas de trânsito, e isso faz com que tenhamos alguns problemas, principalmente nos horários de pico. Percebemos um fazer muito grande das infrações, por pessoas que ainda acham que a Aracaju de hoje é a mesma de 20 ou 25 anos atrás, entendendo que as normas são apenas para serem vistas e não cumprida. Há pessoas que insistem em estacionar em locais onde não é mais permitido, pessoas que insistem em deixar os filhos na escola parando o carro em fila dupla, que dão aquela ‘roubadinha’ num possível retorno, que insistem em invadir o sinal vermelho em certos horários… Então, se você não faz a sua parte no transito, certamente vai ter muita gente não fazendo [infrações] e aí se tem essa situação de caos que a gente vive hoje em alguns momentos do dia. Não é o órgão de trânsito que vai fazer isso sozinho".
MUITO CARRO, POUCO ESPAÇO
"É verdade que Aracaju, apesar de ter quase 160 anos, já passa por problemas de trânsito por causa de sua estrutura. Percebemos que, principalmente no Centro da cidade, as ruas já são estreitas para o nosso volume de veículos. E veículo é uma coisa que não nos falta. Hoje, nós temos praticamente a média de 1 veículo para cada 2 pessoas, e isso só entre os que são registrados em Aracaju. E tem ainda uma situação agravante, que vivemos nas segundas e nas sextas-feiras: em muitas cidades da Bahia e de Alagoas, é muito mais perto vir para Aracaju do que ir para Salvador ou Maceió. Muitas dessas pessoas vêm pra cá pra fazer compras, ir ao médico… sem contar as cidades de Sergipe e as circunvizinhas. Com isso, nós chegamos ao pico de um veículo para cada pessoa. Imagine o que não se passa nessas ruas estreitas que nós temos, as avenidas que ainda possuem uma caixa pequena para esse tanto de veículos".
NOVAS AVENIDAS
"No ano que vem, acredito que a gente já faça o prolongamento da Avenida Augusto Franco, [antiga Rio de Janeiro], juntando-a com a Gasoduto, no Orlando Dantas, e seguindo até o Santa Maria. Esse é um dos projetos que vão realmente acontecer. Temos uma nova avenida, inaugurada neste ano com o Complexo Marcelo Déda. Ela dá prolongamento entre a Ministro Geraldo Barreto Sobral [no Inácio Barbosa], a Paulo VI, a Canal 4 do Augusto Franco e saindo na Heráclito Rollemberg. Temos projetada ainda uma nova perimetral, que é a nova Avenida Contorno e o prefeito João Alves já está chamando de Avenida Juscelino Kubitschek. Ela vai fazer um meio-anel na cidade, porque começa nas imediações do Lamarão, paralela à Euclides Figueiredo, passa por fora do Centro Administrativo e vem contornando a cidade até chegar no Santa Maria. E essa avenida que sai da BR-101, uma continuação daquela via que segue o viaduto na entrada da cidade, é uma obra do Governo do Estado com o Federal que vai dar seguimento até a Rota de Fuga da Zona de Expansão. E temos outra avenida sendo feita pelo Governo do Estado, que circunda o Aeroporto, uma via duplicada, de bom escoamento, que será uma grande opção para quem mora na Expansão".
PARQUÍMETROS
NO CENTRO
"Nós estamos com um bom planejamento pra iniciar agora em 2015, onde vamos tentar inibir as pessoas usem seu veículo para ir ao Centro. É uma região que tem muitos carros e poucas vagas de estacionamento, o que engarrafa bastante o trânsito. Nesta semana, nós já licitamos o estacionamento rotativo, que é uma nova versão do parquímetro, mas sem o totem. A licitação já está em fase de conclusão. Com o parquímetro, nós vamos delimitar o número de vagas. Ele vai funcionar com três mil vagas para os três bairros, Centro, São José e Siqueira Campos. Quando se ocupa essas vagas, não haverá mais onde estacionar os carros, a não ser nos estacionamentos privados".
FAIXAS DE ÔNIBUS NO CENTRO
"E vamos fazer também no ano que vem as "faixas azuis", exclusivas, onde só vão poder passar ônibus e táxis com passageiros. Isso vai melhorar muito o fluxo e o tempo de viagem dos ônibus, vai ser muito mais rápido pra chegar no Centro, porque o ônibus vai ficar praticamente sozinho. A princípio, a gente vai fazer esses corredores em duas grandes avenidas: na Tancredo Neves e na Beira-Mar. Ou seja, assim que o ônibus pegar esses corredores, terá sua velocidade aumentada, pra pelo menos 20 quilômetros por hora. Pra se ter uma ideia, a média atual é de 10 a 12 quilômetros por hora, o que é muito baixo".
LICITAÇÃO DO
ÔNIBUS
"O consórcio público de transporte [que vai gerir o sistema da Grande Aracaju], já está em vias de finalização. Houve uma reunião na semana passada entre o prefeito João Alves e os prefeitos das cidades circunvizinhas que fazem parte da Grande Aracaju [Barra dos Coqueiros, Nossa Senhora do Socorro e São Cristóvão]. O protocolo de intenções foi aprovado pelos quatro prefeitos, depois de um trabalho técnico no qual as SMTTs dos quatro municípios trabalharam com suas procuradorias jurídicas para fechar esse protocolo. O problema é que a atual Lei de Mobilidade Urbana afirma que, em caso de conglomerados municipais, é obrigatória a presença do Governo do Estado. A Sedurb [Secretaria de Desenvolvimento Urbano] vem participando dessas reuniões e, inclusive foi lá onde aconteceu a maioria das reuniões. Ela já se mostrou com uma boa vontade de participar, dizendo inclusive que não tinha o interesse de gerenciar o consórcio, mas sim de repassar essa gerência para o Município de Aracaju, o que também foi plenamente absorvido pelos outros prefeitos. Agora, depois de aprovado o protocolo de intenções, o que falta é a manifestação final do Estado, com a legislação específica necessária, a assinatura final das quatro cidades e do Estado no protocolo, e a criação da autarquia, que será o consórcio em si para gerir o transporte da Grande Aracaju. O prazo agora é mais político do que técnico".
VLT x BRT
"O VLT [Veículo Leve sobre Trilhos] é, nesse moimento, impossível. O custo dele é muito alto e não atende às demandas da cidade. É um trem de dois ou três vagões que tem uma capacidade maior de passageiros, mas a implantação do sistema tem um custo cinco vezes maior que a do BRT [Bus Rapid Transit]. E a manutenção também. Se fossemos fazer hoje o VLT em Aracaju, sem subsídio do governo federal, do Estado, da Prefeitura ou de ambos, a passagem seria hoje de R$ 10, o que seria inviável e daria um prejuízo muito grande. E o BRT, que é o nosso projeto a ser implantado, com seus ônibus articulados e bi-articulados, ele pode fazer o mesmo trabalho com muito mais tranquilidade e um custo cinco vezes menor. E a diferença dele para as faixas exclusivas compartilhadas com os táxis, é que os ônibus tem canaletas exclusivas, que são inclusive segregadas por uma mureta pela qual ninguém passa. Só o ônibus passa por ela e ele só para nas estações. É como se fosse um metrô sobre rodas".
BRT EM EXECUÇÃO
"O projeto executivo do BRT já está em fase final, e depois dele, já se entra na execução propriamente dita do projeto. Acredito que já tenhamos o início das obras no ano que vem. A princípio, o BRT rodará na Avenida Heráclito Rollemberg e na Hermes Fontes, cruzando a Pedro Calazans até chegar ao Mercado pela Coelho e Campos. Teremos também a linha que virá do Santa Maria por essa avenida que será completada entre a Gasoduto e a Augusto Franco, também saindo pela Avenida São Paulo e a Coelho e Campos até o Centro. E numa segunda etapa, ele será feito na Tancredo Neves. São quatro corredores de BRT, sendo dois no sentido Norte-Sul e dois no Leste-Oeste. E essas linhas-tronco, com os terminais de BRT, serão abastecidas pelas linhas radiais que saem dos bairros, isto é, as linhas de ônibus que existem hoje, mas com algumas alterações para atender a demanda do BRT".