Sorte grande

Rian Santos
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Sorte grande, a presença de Gabi Etinger no ambiente criativo da terrinha. A capa de ‘Piçarra’, álbum inédito de Alberto Silveira, fala pela artista.
Sobre as virtudes do álbum, trataremos aqui no momento oportuno, quando o registro finalmente cair na rede. Agora, convém festejar a sua tradução visual – uma pedra equilibrada em verdadeira muralha, o imenso catálogo de colaborações firmadas entre a designer e os artistas independentes da aldeia. Não fossem as mãos cheias de Gabi, a produção local teria outra cara, necessariamente mais pobre.
Sobre os dotes e a competência da moça, não é preciso acrescentar nenhuma vírgula. Eu mesmo já redigi mais de um artigo deslumbrado com a mágica de seus traços. Amaral Cavalcante, olho treinado em décadas de lida com as formas da imaginação nativa, é outro que sempre louvou a manha de sua comadre. A sua generosidade profissional, entretanto, ainda precisa ser mencionada.
Casado com Gabi, eu acompanho o seu desprendimento de perto e tenho a obrigação moral de lhe fazer justiça. Desde quando assumiu o temerário propósito de dar uma feição digna à lavoura impalpável da arte Serigy, independente de linguagens e segmentos, ela percorre com os próprios pés o mesmo caminho árido de seus pares, mais uma entre as idas e vindas de um horizonte o mais acanhado. O sujeito pede um orçamento, sabendo-se incapaz de arcar com o valor do trabalho solicitado, faz cara de coitado. Gabi facilita o pagamento de todas as formas, doida para botar a mão na massa. Por muito pouco, não empresta uns trocados.
Exagero um pouco, talvez. Em verdade, no entanto, o verdadeiro valor do trabalho realizado por Gabi Etinger ainda está em vias de ser devidamente reconhecido, para além dos aplausos de praxe. Afirmo com todas as letras: Trata-se aqui de verdadeiro talento, uma sensibilidade extraordinária.