Helicóptero da Polícia faz rondas nas proximidades do Cenam
Trinta e quatro internos fazem nova rebelião e fogem do Cenam
Publicado em 15 de outubro de 2014
Por Jornal Do Dia
Gabriel Damásio
gabrieldamasio@jornaldodiase.com.br
Mais uma rebelião voltou a sacudir o Centro de Atendimento ao Menor (Cenam) e a Unidade Socioeducativa de Internação Provisória (Usip). Por volta das 17h de ontem, os internos do Cenam jogavam futebol na quadra de esportes, quando iniciaram um tumulto, romperam o alambrado e escalaram o telhado. Parte deles teve acesso à Usip, onde também foi iniciado um tumulto. Em seguida, eles saltaram em direção a um matagal no fundo das unidades.
Segundo dados extraoficiais, 34 adolescentes conseguiram escapar, sendo 29 do Cenam (que tinha 58) e outros cinco da Usip (ora com 67). Até o fechamento desta edição, a assessoria de imprensa da Fundação Renascer não havia confirmado oficialmente estes dados, pois os agentes socioeducativos ainda realizavam uma contagem mais detalhada dos internos que ainda permanecem nas unidades. O órgão responsável pelas unidades também negou ter havido feridos, apesar de o Sindicato dos Agentes de Medidas Socioeducativas (Sindasse) ter afirmado que um servidor foi socorrido com ferimentos leves.
Durante o incidente, o Cenam e a Usip foram logo cercados por policiais militares dos batalhões de Choque (BPChq) e de Radiopatrulha (BPRp), além de um helicóptero do Grupamento Tático Áéreo (GTA) que sobrevoou toda a região do bairro Capucho (zona oeste). A Avenida Tancredo Neves, que passa em frente ao Cenam, ficou totalmente congestionada por conta da movimentação da polícia.
Os menores jogaram pedras, telhas e objetos contra agentes e policiais, que responderam com bombas e tiros de bala de borracha. O tumulto só foi controlado pouco antes das 18h. "Nós utilizamos técnicas para fazer com que eles [os rebelados] cessem todo tipo de ameaça ou fuga. Por isso, foram usadas granadas de efeito moral e munição de borracha. Com isso, eles foram contidos", confirma o capitão Carlos Augusto, do BPChq.
O presidente do Sindasse, Sidney Guarany, disse que, além das pedras e telhas, os adolescentes romperam o alambrado e uma parte dos muros com barras de ferro e ferramentas usadas em obras de reforma que acontecem no Cenam há pelo menos um mês. Aos jornalistas, ele voltou a reclamar das más condições de trabalho e de estrutura, fazendo críticas à postura adotada contra os agentes pelas autoridades, aquém acusa de "pré-julgamento".
"Daqui a pouco chega a polícia para nos inquirir se houve facilitação de fuga, já que os menores se armaram com o material de construção das obras aqui da unidade, e o Ministério Público para saber se houve algum tipo de agressão aos menores. Não temos nenhuma condição de fazer a contenção desses adolescentes e trabalhamos em estado constante risco. Só vão entender a gravidade da situação do Cenam quando acontecer a morte de um trabalhador", disse Sidney. Pela assessoria, a Renascer informou que está mantendo as atividades socioeducativas externas dos adolescentes, em cumprimento ao que diz o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).
Esta é a segunda fuga em massa ocorrida nas duas unidades socioeducativas em um espaço de 15 dias. No último dia 3, outros 39 internos fugiram do Cenam depois de iniciarem uma rebelião também na quadra de esportes. Deste total, 17 já foram recuperados. O incidente também envolveu os adolescentes da Usip, por meio de alguns fugitivos do Cenam. Na ocasião, a direção da Fundação Renascer pediu que a Polícia Civil investigue as circunstâncias da rebelião em um inquérito policial. Antes, no dia 1º, outra tentativa de fuga envolveu 14 internos do Cenam, mas eles foram contidos pelos agentes socioeducativos, os quais alegam que um dos internos tentou matar um dos agentes.