Um bom sinal

Rian Santos
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A importância simbólica das solenidades públicas vem sendo exaltada a torto e direito, desde a cerimônia de posse do presidente Lula. Sim, o povo entregou a faixa ao homem. Sim, a pasta da Cultura ganhou de novo o status de Ministério. Mais uma vez, uma artista negra foi encarregada de gerir as políticas públicas voltadas para o segmento, em âmbito nacional. Resta saber se Margareth Menezes terá a mesma noção a respeito das dimensões continentais do país já demonstrada pelo colega Gilberto Gil. A expectativa é a melhor possível.
O mundo é grande e o Brasil é maior ainda. Ministro, Gil teve a manha de distribuir os recursos da Cultura de norte a sul, sem privilegio dos grandes centros urbanos. Onde quer que houvesse alguém batendo uma lata havia também o apoio fundamental do governo federal. Parece pouco, mas bastou para promover uma pequena revolução, amparada na manifestação de valores antes soterrados pela conveniência da indústria cultural. Aqui mesmo, em Sergipe, nunca se fez tanto barulho.
Os Pontos de Cultura fomentaram o exercício artístico nos rincões do Brasil, incentivaram a eclosão de cenas fadadas a permanecer em estado embrionário até a exaustão. Puxo pela memória e lembro do palco erguido toda semana pelo projeto Rua da Cultura no mercado central de Aracaju.A sua dimensão desproporcional motivava toda sorte de críticas. Hoje, carentes de tambores nativos, constatamos: a gente era feliz e não sabia.
A crise no prato vazio dos brasileiros é também estética. O terceiro mandato do presidente Lula prometia e já entregou a necessária renovação da linguagem, em favor da sensibilidade nativa. O logos, o ethos, as cores, as formas que identificam a nação vibram com alegria renovada. Talvez seja ingênuo, mas muita gente digna de crédito se agarra a isso com a boa fé de quem vislumbra um bom agouro, excelente sinal.