Recessão

Já era esperado. Somente agora, no entanto, o palavrão foi impresso com todas asletras nas páginas dos jornais. Em um contexto tão duradouro de inflação nas alturas, instabilidade política, suspeitas na distribuição dos recursos públicos, o tombo no PIB até que demorou muito.
A recessão é um fato. O recuo observado no PIB entre julho e setembro não é obra apócrifa, sem pai nem mãe. Foi por ação e omissão da dupla Bolsonaro e Guedes, dedicados a insuflar um otimismo tão consistente quanto um balão de ar, que o recuo ganhou corpo, até ser confirmado pelos números.
Os números, aliás, não mentem. O avanço de 1% no primeiro trimestre do ano corrente, comemorado com estardalhaço delirante, não tinha bases sólidas. Assim, os dois trimestres seguintes queimaram quase um terço dos ganhos acumulados até então. Agora, com o recuo acumulado em dois trimestres seguidos, a recessão ganha uma grandeza estatística inegável. E contamina todas as projeções lançadas sobre o ano vindouro.
Ao contrário do ministro Paulo Guedes, nenhum economista em boa fé e sã consciência enxerga um céu de brigadeiro sobre a cabeça dos brasileiros. E isso não guarda relação exclusiva com a economia, stricto sensu. Com as prioridades acolhidas pelo governo Bolsonaro, a exemplo da defesa de um orçamento secreto, o toma lá dá cá, as negociatas em curso no Congresso Nacional, fica difícil sustentar a fé no futuro.