República do olho gordo

Rian Santos
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Finda janeiro, finalmente. Para alívio dos pobres sufocados por um fim de mês interminável e alegria dos deputados e senadores eleitos, em vias de tomar posse. Estes não se dão por satisfeitos, contudo, exigem sempre mais da sorte. Nada estará bem enquanto não se esbaldarem em prestígio, poder e dinheiro.
Leio sobre a eleição da mesa diretora da Câmara e do Senado, corado de vergonha. Os argumentos adotados pelos senadores Alessandro Vieira e Laércio Oliveira para votar no homem de Bolsonaro constituem um primor de cinismo. Um fala em amizade. O outro clama por mudança. Mas votam, os dois, apenas por si mesmos. Triste, muito triste, isso de achar no mesmo balaio políticos de perfil reacionário, golpista, supostos moderados e até os autoproclamados progressistas.
Leio também sobre as vagas ociosas nos Tribunais de Contas espalhados pelo País. O ministro da Casa Civil a serviço de Lula não faz segredo do olho gordo e mexe os pauzinhos para que a sua esposa seja nomeada para uma vaga cobiçada por muita gente graúda nas ladeiras da Bahia. Salário polpudo, cargo vitalício, uma única exigência: o candidato deve ter experiência comprovada em administração pública. A esposa do petista Rui Costa jamais exerceu atividade parecida, é formada em enfermagem.
O problema é meu, talvez, um homem velho, com a vista cansada de tanto catar assunto nos jornais. Os piedosos me aconselham a leitura da bíblia, promovem confusão entre assuntos de foro íntimo e temas da vida pública. Herege, acato o conselho, no entanto. E lembro que é mais fácil um camelo passar pelo buraco de uma agulha do que um homem rico adentrar o reino dos céus.