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A ARTE VENCEU E VIVA O ARTISTA


Publicado em 09 de abril de 2022
Por Jornal Do Dia Se


Manoel Moacir Costa Macêdo

Dizem que a “arte é egoísta”, não sei se é verdade. Mas, com certeza ela é “bonita e é bonita”. Em conhecidas disputas, a arte venceu para o bem do artista e de todos nós. É difícil a convivência pacífica entre arte e a rotina dos comuns. Em alguma encruzilhada, cedo ou tarde, com amor ou com dor, a arte vencerá. Não existe vida sem arte.
Assim foi o encontro com a arte do engenheiro agrônomo Roberto Pitombo, no meio artístico conhecido como “Beto Pitombo” de Feira de Santana, a “Princesa do Sertão”, onde “Pitombo” representa um ramo genealógico de tradicional prole. Um reencontro após mais de quatro décadas distanciados. Tempo além de “mudança de época”, mas de “época mudança”. Do rural para o urbano, da censura para a liberdade, da ditadura para a democracia e da agronomia para a música.
Em recente apresentação na bucólica “Varanda do Sesi” no boêmio bairro do Rio Vermelho, em Salvador, dia seguinte ao aniversário de 473 anos da primeira capital do Brasil. Para uns “o coração do mundo e a pátria do evangelho”, para outros “aqui plantando tudo dá” e “bonito por natureza”. Cidade que expressa na face e cores a beleza da afro descendência, tal qual a “Mãe África”. Fazia muito tempo que não o víamos em corpo e espírito, mas sabíamos de sua fama e gosto continuado pela música. Um cantor excepcional. Não fomos reconhecidos, mas não tem razões para ressentimentos, fazia quase meio século de distanciamento temporal. O foco do passado de universitários foram os ensinos agronômicos, hoje amadurecidos é a música. Não significa apenas uma separação linear pelos anos, mas uma mudança profunda nos valores, modo de viver e sentir o mundo.
Pitombo, concluiu o curso de engenharia agronômica, uma exceção para os tragados pela arte na década de setenta, os anos de chumbo da ditadura militar. Não foi um universitário militante na política e nos diretórios acadêmicos, possivelmente trazia grudado no ser, a história familiar do “massapê colonial do recôncavo baiano” e das usinas de açúcar marcadas pela escravidão negra. O artista não atendeu e nem se curvou perante o esperado determinismo de que “a vida material constrói a consciência”, ao contrário registrou ainda na universidade, com letra instigante, voz melodiosa e coragem, o hino de protesto à desigualdade na canção “Pau de cerca”, vencedora de festival universitário, sob os apupos de seus colegas de agronomia e dos medos da repressão. Uma ode às injustiças sociais no campo e na cidade.
Nesse emocionante e contemporâneo reencontro, não estávamos sós, mas com amigos e familiares, com os olhares fixos no artista, aplaudindo orgulhosamente, um colega que a agronomia emprestou à música. A apresentação não poderia ter outro tema: “Natureza Viva”. Alusão a terra, os agricultores, as plantas, aos animais e ao meio ambiente, elementos da estrutura agronômica. Não faltaram assovios, aplausos, grito sem tom maior ao Roberto, que além de voz exuberante e repertório maravilhoso, era ao mesmo tempo “engenheiro agrônomo diplomado” como nós outros e artista reconhecido. Ambiente lotado, mas orgulhosamente queríamos que todos soubessem que éramos colegas do cantor.
Os anos passados e não foram poucos, deixaram marcas menores na “face do artista, pois eles nunca envelhecem” e mais evidentes nos seus colegas penteados de branco e proeminentes abdomens. A agronomia não perdeu um engenheiro agrônomo, mas a arte ganhou um artista.

Manoel Moacir Costa Macêdo é engenheiro agrônomo.

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