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A CELEBRAÇÃO EXTEMPORÂNEA


Publicado em 08 de maio de 2025
Por Jornal Do Dia Se


A rigor, os jornais em geral – a história mostra bem isso – podem cumprir papéis bem distintos. Ora eles se destinam a confirmar determinada ordem política, ora a desconfirmá-la

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* Carlos Alberto Menezes
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Desde a adolescência, especialmente a partir dos 13 anos, quando não passava de um ginasiano, ainda,  portanto, na idade das primeiras descobertas, minha relação com os jornais contribuiu num grau bastante expressivo para alimentar a visão de mundo que, em grande parte e até hoje, ilumina minhas escolhas. Na época, eu morava no Centro de ARACAJU, estudava no JACKSON DE FIGUEIREDO, a banca do CARECA [era esse o apelido de GERVÁSIO, um simpático e falante militante da esquerda local], situada no PARQUE TEÓFILO DANTAS – bem ali, próxima da CATEDRAL – era o ponto onde comprava ora o JORNAL DO BRASIL, ora o jornal ÚLTIMA HORA. No JORNAL DO BRASIL, gostava muito de ler a COLUNA DO CASTELO – um texto agudo e que retratava muito bem os episódios dos bastidores da política nacional – e no ÚLTIMA HORA via na figura de SAMUEL WAINER a fina e avançada referência do jornalismo brasileiro, sobretudo na denúncia quotidiana da ofensiva militar contra as lideranças da oposição. Enfim, na segunda metade dos anos 60, consistia nisso a mídia a que recorria como consumidor de informações.
Na primeira metade dos anos 70 eu já estava no curso de direito. Na ocasião, o ÚLTIMA HORA mudou de senhor e, assim, mudou a linha editorial, passando a repercutir o discurso da ditatura. Com isso, minhas preferências também mudaram. O PASQUIM passou a ser meu jornal de cabeceira. Nele, tive acesso ao brilho dos textos de alguns intelectuais brasileiros que iluminaram minha geração, gente como MILLOR FERNADES, PAULO FRANCIS, RUY CASTRO, IVAN LESSA, LUIZ CARLOS MACIEL, etc. Não menos importante foi o jornal MOVIMENTO, cuja linha editorial foi marcada por incessante combate aos militares.
Com efeito, eu gostava tanto de jornais, tinha um apetite tão voraz por eles, que entre a data do nascimento do PASQUIM [1969] e do MOVIMENTO [1975], criei, ao lado de VALTER DIAS CALIXTO, um colega da FACULDADE de DIREITO [UFS], meu próprio jornal. O nome dele era O REKADO. Foi fundado em 1974 e depois de algumas edições, era um [semanário] a ditadura não o suportou e mandou fechá-lo. Não era para menos. Aquele foi o período mais feroz e pleno da força dos quartéis. Numa redução esquemática, ela, a força, apresentava-se sobre tríplice aspecto. Assim, 1. através de seus generais expropriou a Presidência da República; 2. através dos soldados, ocupou as ruas reprimindo ali os jovens que protestavam contra o regime; 3. através de burocratas, fardados ou não, invadiu a redação dos jornais cuja linha editorial questionava a ação e o espírito daquele tempo tão sombrio.
A atuação crítica dos jornais, naquele período, não apenas contribuiu para fragilizar o regime, mas salvou muita gente, inclusive os prisioneiros que aqui mesmo, em SERGIPE, foram capturados pela OPERAÇÃO CAJUEIRO em 1976. Sem a notícia que deram das prisões, divulgada no país e no estrangeiro, o destino deles teria sido outro, talvez num grau máximo de letalidade.
A rigor, os jornais em geral – a história mostra bem isso – podem cumprir papéis bem distintos. Ora eles se destinam a confirmar determinada ordem política, ora a desconfirmá-la. Confirmam a ordem os jornais que, acriticamente, festejam seus ídolos, reproduzem seu discurso, celebram suas práticas e divulgam seus eventos. O primeiro jornal da história – o acta diurna – tinha esse perfil. Ele foi fundado na Roma Antiga pelo doublê de General e intelectual CAIO JÚLIO CEZAR. Desconfirmam-na aqueles que desconfiam da autoridade, sobretudo da autoridade dos fatos que ela divulga. A desconfiança nada mais é que a suspensão das certezas, ali onde as dúvidas ainda não foram superadas. Tais jornais não estão interessados na tranquilidade do cotidiano dos agentes do poder; estão mais interessados em valores, por exemplo, a liberdade, a democracia, a justiça social, o desenvolvimento econômico, o pleno emprego, a probidade etc. Eles sabem que uma comunidade estatal que não tem tudo isso como suporte está fadada ao aniquilamento, não importa se já tem mais de 500 anos de idade.
 O JORNAL DO DIA, como produto dos tempos modernos e sob a liderança editorial de GILVAM MANOEL ostenta esse perfil, um perfil bem diferente do ACTA DIURNA. Aliás, gostaria que hoje fosse o dia 11 de janeiro de 2025, data da celebração dos seus 20 anos. Mas o tempo, em si mesmo, não volta atrás, não se move, salvo no relógio ou no calendário. Mas tem algum problema celebrar alguma data fora do espaço organizado do relógio e do calendário?
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* Carlos Alberto Menezes é doutor em direito pela PUC/SP [PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DE SÃO PAULO] e ensina Direito Penal na UFS [UNIVERSIDADE FEDERAL DE SERGIPE]
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