A CRISE DE FERTILIZANTES
Publicado em 10 de abril de 2023
Por Jornal Do Dia Se
Soluções existem para à produção de fertilizantes no país, como a exploração das reservas minerais de fósforo e potássio no Amazonas e Sergipe
Pedro Abel Vieira & Manoel Moacir Costa Macêdo
O uso dos nutrientes nitrogênio, fósforo e potássio – NPK têm papel importante no rendimento da produção agrícola. O modelo teórico para o crescimento agrícola brasileiro desenhado nos anos setenta foi o da “inovação induzida”: poupar terra e trabalho, pelo uso intensivo de fertilizantes sintéticos e máquinas agrícolas. A competitividade da agricultura brasileira foi alavancada pela assistência técnica, crédito subsidiado e adoção de inovações de tecnologias organizacionais, mecânicas, químicas e biológicas. Uma sutil estratégia de frear a reforma agrária e a pressão por terra na equação produtivista.
O Brasil está situado na faixa intertropical, solos ácidos e pobres nos principais nutrientes. A expansão da agricultura exigiu a utilização crescente de fertilizantes importados. De2000 a 2020, o uso do NPK aumentou em 157% e a produção de grãos cresceu 211%. Externalidades não foram contabilizadas. O propósito foi o aumento linear da produção e produtividade das lavouras. Os nutrientes mais utilizados na produção agrícola brasileira são o potássio (K) com 38%, fósforo (P) com 33% e o nitrogênio (N) com 29%.Cabe ressaltar que o menor percentual do N se deve à fixação biológica do nitrogênio, por bactérias fixadoras de nitrogênio do ar, em substituição ao nitrogênio químico.
As importações responderam por 99% do potássio, 97% do nitrogênio e 72% do fósforo.Enorme dependência para um setor estratégico da economia. Contingência que eleva o custo dos fertilizantes e dos processos de produção. Limitação estrutural que estimula a substituição de fertilizantes sintéticos por fontes alternativas, como os bioinsumos. Uma das possibilidades de situar o Brasil competitivo na contemporaneidade do mercado global.
Antes de desarticular a produção interna de ureia, o Brasil era o segundo exportador de nitrogênio. Quanto ao potássio destaque para as exportações de Canadá e Rússia. No caso do fósforo, a China é o principal exportador, seguido por Marrocos, Rússia, Estados Unidos e Arábia Saudita. O Brasil possui apenas 0,72% das reservas mundiais de rocha fosfática e a produção nacional atende aproximadamente 30% da demanda do fósforo. Soluções existem para à produção de fertilizantes no país. Exploração das reservas minerais de fósforo e potássio no Amazonas e Sergipe. O Brasil é um relevante fornecedor de grãos e carnes para os países exportadores de NPK e dispõe de tecnologias poupadoras desses nutrientes, a exemplo da fixação biológica de nitrogênio por bactérias e do inoculante líquido de fósforo, abundância de gás natural e reservas de calcário para a fabricação de ureia.
Cabe ao Brasil elaborar estratégias integradas, que incluam negociações diplomáticas e comerciais na economia global, uso eficiente dos fertilizantes, bioinsumos, biofertilizantes, fixação biológica de nitrogênio, redução de ineficiências na aplicação, como logística, desperdício e contaminação na propriedade rural.
O mundo da pós-pandemia, da globalização em ruínas, da mudança climática e de consumidores exigentes por alimentação saudável irá requerer novas abordagens para o uso de fertilizantes na produção agrícola brasileira. Ao final, as soluções exigem a integração de inovações tecnológicas ambientalmente responsáveis, diplomacia para a regularidade da oferta desses insumos e produção agrícola com sustentabilidade.
Pedro Abel Vieira & Manoel Moacir Costa Macêdo são engenheiros agrônomos.