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Cavando a própria sepultura
Publicado em 06 de janeiro de 2022
Por Jornal Do Dia Se
* Rômulo Rodrigues
A sombra de como se sentiria uma pessoa ao ser obrigada a cavar sua própria sepultura, sabendo que o ato seguinte a isso é ser executada e enterrada, ainda viva ou já em óbito, povoa minha mente com uma angústia que nasceu no ano de 1951, há exatos 70 anos, portanto ainda criança, quando fui levado por meu pai, para conhecer a sepultura de Jararaca, um jovem de 26 anos, capturado do bando de Lampião, quando tentaram conquistar a cidade de Mossoró, no Rio Grande do Norte.
Jararaca, em 19 de julho de 1927, foi obrigado a cavar a própria cova, para depois ser executado pela volante e posteriormente enterrado, possivelmente, ainda com vida, era objeto de grande curiosidade.
Há algumas semanas, na cidade de Laguna, em Santa Catarina, em pleno século 21, a jovem Amanda Albach, 21 anos, foi obrigada a cavar sua própria sepultura por, supostamente, ter reconhecido um traficante entre os frequentadores de uma festa que participara.
Antes, até mandou para mãe uma mensagem pelo celular dizendo que estava indo para casa.
Nos dois casos, dois jovens de vidas bem distintas foram brutalmente executados pela crueldade humana, num intervalo de 94 anos.
Cavar as próprias sepulturas, nos dois casos não foram atos de vontades próprias; foram em função de ameaças, que depois se concretizaram, sem piedade, mas que as vítimas puderam fazer daqueles momentos, algum prolongamento das vidas, na busca de uma saída, qualquer saída.
Na história política de Sergipe do século 21, há exemplo de quem tinha alcançado um sucesso, nunca antes imaginado, mas que, não sabendo aproveitar, cavou a própria sepultura política e se enfiou no buraco da vida pública e, tudo indica, nunca mais retornará à ribalta, embora a extrema vaidade não o faça aceitar que está morto.
Quem no momento está vendo a sepultura cavada e à espera do seu cadáver político, é o Sr. Sergio Fernando Moro, o outrora todo poderoso e inatingível juiz comandante da operação lava jato que ficou conhecida como a quadrilha de Curitiba.
Um exemplo foi a recente chegada dele em Porto Alegre, onde foi vaiado e repudiado pela população, com gritos de juiz ladrão e cartazes dizendo que ele é um dos responsáveis pela grande crise econômica e sanitária que o país atravessa.
Já é público e notório que Sergio Moro foi um agente treinado pela CIA para comandar a guerra híbrida no Brasil, intimidando o poder judiciário e com total apoio da mídia patronal e do partido dos generais.
Julgando-se acima da lei, projetou sua carreira política para ser presidente da República ou ministro do STF e está se dando mal.
Deltan Dallagnol, fiel escudeiro de Moro como arauto da moralidade e do combate à corrupção, está sendo acusado por Tacla Duran, junto com Moro, de dividirem propinas, e de fazer de uma filha de dois anos e meio, uma bem sucedida empresária; pode isso Arnaldo? Moro e Deltan já são donos de sepulturas bem cavadas.
Os últimos exemplos hão de servir de alerta para quem, na pressa de pular etapas, sem respeitar os sinais das pedras filosofais e da conjuntura, esteja abrindo um fosso capaz de interromper uma brilhante caminhada que a paciência seria capaz de levar ao topo do pódio, como uma consequência natural.
Como se diz lá em Caicó que a pressa é inimiga da perfeição; se pode concluir que a pressa cega é duplamente inimiga.
Para cavar a própria sepultura, não precisa ser um jovem cangaceiro ou uma jovem que gostava de festas. Basta não saber interpretar os Urais e os Murais da conjuntura.
No início de 2022, quem está praticando o inusitado esporte é o PSB que acaba de encostar o presidente Siqueira e colocar o governador capixaba, Renato Casagrande como o líder da não aliança com o PT.
Está bem claro que eles não querem a aliança e o absurdo está no pedido para fazê-la: apenas e tão somente um colégio eleitoral de 50 milhões de votos nos estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Pernambuco e Espírito Santo, e de porteira fechada. Estão pensando o quê?
* Rômulo Rodrigues, sindicalista aposentado e militante político