CINQUENTENÁRIOS DO BRASIL
Publicado em 27 de agosto de 2022
Por Jornal Do Dia Se
Inocêncio Nóbrega
Historicamente, o Brasil, não tem sido feliz quanto às suas festas cinquentenárias, as quais teriam marco inicial em 1872. Não consegui captar registros de festejos relativos ao seu 7 de Setembro. A não ser a realização, em agosto, do 1º censo, com resultado de 9.930 habitantes, 48% de mulheres. Inexistiu qualquer iniciativa, nesse sentido, por parte de Dom Pedro II e de seus assessores, talvez preocupados com os destroços sociais e econômicos, provocados pela Guerra do Paraguai, cujas finanças públicas eram drasticamente engolidas pelas forças militares, comprometendo o combate e os efeitos da pandemia do cholera-morbus.
No Centenário, 1922, no Brasil mergulhava-se em fulgurante disputa eleitoral, favorável a Artur Bernardes diante de seu adversário, Nilo Peçanha. Jornal paulista forja carta, atribuindo-a ao candidato vitorioso, de severas críticas ao Exército, ocasionando levante do Clube Militar. Apesar disso, o pres. Epitácio Pessoa, contando com a participação de seu colega de Portugal, Antonio José de Almeida, inaugura Exposição Internacional, em S. Paulo, e a primeira emissão radiofônica do país, no Rio de Janeiro. Várias cidades do interior brasileiro, de menor que fossem, registraram a efeméride.
O Sesquicentenário, 1972, na verdade marcado por comemorações, todavia num cenário de perseguição aos valores humanos, com as masmorras carregadas de prisioneiros, submetidos a torturas, muitos levados à morte quando não desaparecidos. O gen. Médici, na prática alçado a ditador, dirigia a nação. Entre seu período e o seguinte, de Geisel, o jorn. Ruy Aguiar foi fuzilado em S. Paulo, precedendo a onze outros companheiros, os quais tiveram semelhante destino. O clima era de medo e total submissão à força bruta das armas. Não obstante, restos mortais de D. Pedro foram transladados para o Museu do Ypiranga, onde lá repousam.
Neste Bicentenário, a presença do coração do então monarca contrasta com o sentimento de frustração nacional. Milhões de brasileiros são torturados pela fome, as instituições republicanas vilipendiadas e a democracia em perigo. Sem dúvida, esse o jeito de reverenciarmos nosso “herói” da Independência, que sem dúvida teve suas virtudes, entretanto passou a tomar atitudes incompatíveis com os sonhos do Brasil independente, daí merecendo sua abdicação, em 1831.
Incerto, nosso futuro. Projeções de desenvolvimento que se fizerem, sem mudanças estruturais, embora carregadas de esperança, não garantem a celebração do próximo cinquentenário, de 2072, com o orgulho e paz de que nossa Pátria merece.
Inocêncio Nóbrega é jornalista.