CLARCKSON E O ADEUS A UM IMPRESCINDIVEL
Publicado em 14 de abril de 2022
Por Jornal Do Dia Se
Rômulo Rodrigues
Quinta feira, dia 7 de abril, no inicio da tarde, veio o baque que me deixou atordoado e emocionalmente abalado.
A noticia chegou por um grupo de WhatsApp de velhos companheiros e minha resposta, após me recuperar do choque foi essa: “De todos os camaradas de lutas o que me tratava com mais carinho e respeito era esse Neguinho rabugento. Sinto dizer que não estou encontrando forças para me despedir dele, não estou preparado. Perdoem-me, Clarckson presente. Ontem, hoje e sempre”.
Na sexta feira, dia 8, reuni todas as forças disponíveis e fui até a sua casa, o SINDIPETRO, para a despedida. Entrei devagar, segurando a respiração e ao chegar à área onde ele estava sendo velado, fui surpreendido pelo imenso carinho dos funcionários do sindicato nas pessoas de Conceição, Marina, Cacau, Paulinha, Jorge e Williams que me envolveram com uma manta de carinho tão grande que, com certeza, freou qualquer intenção do velho coração de tentar me pregar alguma peça.
Num tempo em que se fala muito de legado o camarada Heitor Pereira Alves Filho expressou com fidelidade a trajetória desse herói: “Clarckson Messias Nascimento, o Neguinho, Neguinho Clarckson”.
Clarckson é um daqueles que veio de uma família pobre, trabalhadora, que menino ainda vendia picolé para ajudar em casa, ajudar sua mãe, como milhares de meninos e meninas pobres fazem pelas cidades do nosso Brasil.
Mas um menino que veio destinado a servir para sobreviver, mas o Neguinho quis mais, quis saber mais, ele sempre queria saber mais.
Ele nunca aceitava as condições adversas que se apresentavam. Ele era tenaz, persistente, perseverante.
Assim, de evangélico dedicado a marxista se transformou em um tremendo organizador político. Não escondia suas posições, ia para o combate, comprava as brigas!
Sempre estava me perguntando sobre as coisas, sempre me procurava para arguir sobre a teoria marxiana, sobre o pensamento de Lênin, de Trotsky.
Eu poderia ficar falando por horas e o Neguinho Clarckson não se cansava de ouvir, queria mais e mais, eu é que me exauria.
Sabia que era odiado pela gerência da Petrobrás, nós brincávamos com isso, dizíamos um para o outro que éramos odiados o mesmo tanto, mas por motivos diferentes.
Mas era respeitado pelos trabalhadores e pelas trabalhadoras, pois sua dedicação à luta de nossa classe era reconhecida. A muitos de seus adversários faltava essa dedicação e compromisso.
Começamos no início da década de 80, quando as dependências da Petrobrás foram ocupadas pelo exército.
Um ninho de metralhadoras no bosque da sede da Rua Acre – no pátio do estacionamento à frente da empresa fizemos um ato.
Ali, naquele dia nos conhecemos e começamos a organizar uma oposição à direção pelega do sindicato.
A capacidade de organização do Neguinho Clarckson foi fundamental para colocar uma direção de luta no SINDIPETRO Sergipe/Alagoas.
Daquele dia em diante, militamos juntos no PT pela Base, na CUT pela Base, depois viemos a fundar o PSTU.
Clarckson não parava de crescer, de buscar mais e mais conhecimentos. Meu amigo Clarckson se foi deixando em meu peito uma dor imensa. Na minha mente um turbilhão de lembranças. Lembranças das conversas, das reuniões, dos debates, dos congressos, da nossa luta.
Depois de Heitor, outro brilhante camarada, lá vou eu. Também foi no início dos anos 80, mais precisamente em 1983 quando os petroleiros de Paulínia, em São Paulo, e Mataripe, na Bahia, deflagraram uma greve em plena ditadura militar, que na Nitrofértil, em Laranjeiras, Sergipe, o companheiro Edmilson Araújo encabeçou um manifesto em apoio aos grevistas e tivemos o primeiro confronto com a direção reacionária da empresa.
Dai, nasceram os embriões do SINDIQUÍMICA Sergipe, como APEQ, e o dos encontros da classe trabalhadora, ECLAT, para a construção do congresso de Fundação da Central Única dos Trabalhadores – CUT.
Foi numa plenária preparatória no jardim do Sindicato, fechado por ordem da direção pelega, que estreitamos os laços com os petroleiros, entre os quais Clarckson, Heitor, Sergio e muitos outros.
São quase 40 anos de um legado inigualável na defesa da classe trabalhadora. Legado, por ser uma jornada de construção e organização; inigualável, por ser incessante, sem um dia sequer de folga, de férias.
É por tudo isso que peço licença a Bertolt Brecht para dizer que o Neguinho Clarckson era imprescindível.
Rômulo Rodrigues, sindicalista aposentado, é militante político