Bolsonarista da cabeça aos pés (Divulgação)
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De Iemanjá a Emília Corrêa
Publicado em 04 de fevereiro de 2025
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
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Dia 02 de fevereiro, enquanto as praias do litoral brasileiro estavam cobertas com as flores oferecidas à rainha das águas, o competente jornalista Pedro Dória foi às redes sociais para fazer uma provocação barata: para ele, era dia de celebrar Iemanjá, a entidade cultuada pelas religiões de matriz africana, sim. E era dia de celebrar Yeshuá, também.
O paralelo estabelecido pelo jornalista carioca, face pública da plataforma de jornalismo digital O Meio, não se dá no vazio. Polêmica causada pela cantora Claudia Leite, em cima do trio elétrico, serve como pano de fundo para a comparação infeliz. Inadvertidamente, entretanto, Pedro Dória evocou o princípio da tolerância em favor dos intolerantes, agiu como um homem tolo, um ingênuo – Ou, na pior das hipóteses, um homem infeliz.
Há boas razões para temer os efeitos deletérios do identitarismo, pedra de toque do pensamento progressista desde a emergência das redes sociais. Essencialmente sectário, o filtro aqui em questão simplifica e aplaina as complexidades, arestas e contradições dos relacionamentos humanos, resvalando em uma espécie de tribalismo moralista e canhestro. Mas a enorme diversidade das gentes inclui populações completamente vulneráveis à violência e o arbítrio. Infelizmente, os mais fracos foram obrigados a se organizar e a se unir contra o próprio fim.
Outro dia, Jaci Rosa Cruz, diretora da Galeria de Artes Álvaro Santos, mantida pela Prefeitura de Aracaju, promoveu um evento voltado para o reconhecimento da presença feminina nas artes visuais Serigy. O debate, em si, é dos mais proveitosos. O próprio fato daquela galeria ter, finalmente, encontrado um norte curatorial, após tanto tempo abandonado às moscas, aliás, merece aplausos e foguetório. Nada disso, entretanto, está relacionado ao fato de Aracaju ter hoje uma prefeita, em lugar de um prefeito, como a diretora da GAAS deu a entender, em declaração voltada para a divulgação do referido evento.
É verdade, Aracaju jamais teve uma prefeita. Por uma série de circunstâncias eleitorais, coube a Emília Corrêa ostentar o honroso título de primeira prefeita da capital sergipana. Não há como ignorar, contudo, o fato de Emília se filiar à ala mais reacionária da direita tupiniquim, justamente aquela que faz questão de confundir política e religião, negando a persistência das desigualdades e a necessidade de reparação com mulheres e negros, bandeiras caras à esquerda, por exemplo.
Bolsonarista da cabeça aos pés, Emília simpatiza com uma liderança política misógina, homofóbica, negacionista, racista. Ante uma prefeita com tal sorte de afetos, convenhamos, o próprio identitarismo treme.