Decoro manda lembrança
Publicado em 19 de fevereiro de 2020
Por Jornal Do Dia
O Brasil já foi governado por presidentes com diferentes perfis ideológicos e formação aca dêmica diversa, antes e depois da redemocratização. Só a violência e a falta de escrúpulos adotadas por Jair Bolsonaro ao atacar adversários reais e imaginários são inéditas.
O decoro manda lembrança. Ontem, empregando linguagem imprópria, Bolsonaro resvalou em sexismo, machismo e misoginia. Não é a primeira vez que ele tropeça em uma concepção de mundo francamente atrasada, a sua trajetória na vida pública é marcada por declarações escandalosas. Mas há limite para tudo. O presidente do Brasil não pode se comportar como um deputado do baixo clero.
Chega a ser constrangedor reproduzir as palavras do presidente, ao reproduzir acusação falsa contra uma repórter do jornal Folha de São Paulo. Segundo ele, a premiada jornalista Patricia Campos Mello "queria dar o furo". A declaração foi realizada diante de um grupo de simpatizantes em frente ao Palácio da Alvorada, às gargalhadas.
Em outros termos, o ataque seria igualmente inaceitável. O presidente da República não tem a atribuição de polícia, nem de sensor. O vocabulário de Jair Bolsonaro é revelador de uma personalidade perversa. Ao invés de demonstrar a suposta simplicidade do homem, como argumentam os defensores mais fanáticos, realça antes a sua incompatibilidade com a liturgia do cargo.