Disparos a esmo
Publicado em 11 de novembro de 2021
Por Jornal Do Dia
Via de regra, policiais atiram primeiro e perguntam depois. A afirmação está amparada em índices alarmantes de letalidade em operações oficiais. Mais das vezes, as ocorrências viram estatística, sem maiores consequências na rotina dos autores dos disparos. Os policiais sergipanos enrolados com a Justiça paraibana, no entanto, não parecem ter motivos para contar com a impunidade.
O caso do empresário do Sertão da Paraíba morto por policiais de Sergipe, em março de 2021, teve sua segunda audiência de instrução na última quarta-feira. O julgamento ainda está longe de chegar a um termo. Mas a defesa encontra dificuldades para se esquivar aos indícios de crime levantados pelo inquérito.
Se os policiais sergipanos agiram conforme a acusação e dispararam contra um suspeito que não ofereceu qualquer resistência, antes de adulterar a cena do crime, agiram conforme o hábito consagrado pela cultura da polícia local. De acordo com o Monitor da Violência, Sergipe foi o segundo estado com o maior número de mortes durante confrontos policiais em 2020. Ou seja: atiraram a esmo.
Este é um problema grave e de abrangência nacional. Via de regra, onde falta qualificação técnica abunda a má fé, ou o puro ímpeto, o voluntarismo. Este é justamente o caso. Infelizmente, a polícia brasileira não está preparada para lidar com cidadãos e apela sempre para o último recurso.