Quarta, 22 De Janeiro De 2025
       
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É sempre bom lembrar e registrar


Publicado em 02 de dezembro de 2014
Por Jornal Do Dia


* Raymundo Mello

A Rádio Cultura de Sergipe está comemorando 55 anos NO AR. Beleza! Sou seu ouvinte desde sua fundação e, ainda hoje, determinados momentos de sua programação são insubstituíveis para mim. Quando o evento é citado, me vêm à mente fatos que muito me ligaram à emissora em suas origens, em seus primeiros ou pelo menos iniciais trabalhos, à luta de tantos; como era difícil a instalação de uma emissora de rádio que, diga-se de passagem, nasceu grande – AM e Frequência Modulada.
A inauguração foi prestigiada pelo Presidente Juscelino Kubitschek, representado pelo seu Ministro Sette Câmara, Diplomata, integrante da cúpula do Governo Federal, e marcou a atividade principal da emissora – Educação, educação de base; era, talvez, após os objetivos de Evangelização, a principal área – Educação e Cultura, com programação em grande estilo, promovida por artistas de elevado nível em todas as áreas radiofônicas – da leitura de textos de propaganda à apresentação de boa música, rádio-teatro, noticiários e ampla programação religiosa da Igreja Católica, cujo Bispo, à época 3.º Bispo de Aracaju, era Dom José Vicente Távora, posteriormente Arcebispo Metropolitano, autoridade religiosa de grande prestígio, que implantou o MEB – Movimento de Educação de Base e foi esse movimento que me levou a conhecer pessoalmente o senhor Bispo.
Explico – o MEB implantou vários núcleos educacionais, especialmente no interior do estado, e os trabalhos eram produzidos e implementados pela Rádio Cultura de Sergipe. Um salão (principalmente paroquial), uma mesinha e uma tomada elétrica, eram essenciais para o funcionamento do núcleo e, naturalmente, uma antena de rádio, e aí entrava a peça mais importante, o rádio receptor, alguns equipados para funcionar à bateria, em locais onde havia deficiência de energia elétrica. Os aparelhos eram pequenos mas captavam bem o som da emissora e ficavam sintonizados definitivamente nela, não pegavam outras emissoras, eram chamados "rádios cativos", também conhecidos com "rabo quente". E era através desses instrumentos que o MEB levava educação popular, acessível, principalmente, aos homens e mulheres de baixa renda e do campo. À época, um grande e importante trabalho, hoje feito pela televisão em HD – som digital. É a evolução!
E aí entravam a Diocese (Dom Távora) e a nossa companhia de aviação: a cada remessa, 20 a 30 caixas com rádios e acessórios. Chegavam com "Frete a Cobrar" e o Bispo não tinha verba para esse tipo de pagamento. Então chegava Dom Távora, fala mansa, boa conversa, retirava os aparelhos sem pagamento e deixava a pendência para resolvermos junto à direção da companhia.
E quando conseguíamos a liberação do frete, chegava nova remessa de "rádios cativos" e o pedido de dispensa recomeçava. E assim foi, até que o estoque completou. Não sei se a emissora ou a representação do MEB ainda têm algum desses aparelhos de rádio.
Mas, a verdade é que a emissora sobreviveu, formou grandes radialistas, superou crises financeiras, mas foi sempre prestigiada pela Fundação Arquidiocesana de Cultura, entidade com a qual colaborei a convite e nomeação para o cargo de Diretor Financeiro feito por Dom Luciano Duarte (primeiramente como substituto de Dr. Fernando Garcez Vieira, que afastou-se por motivo de saúde, e depois como titular), deixando implantado algum resultado que, acredito, positivo, e está aí, na Arquidiocese, firme e forte a Dra. Enrica Minini que pode confirmar tudo isso.
Voltando à Rádio Cultura, ao MEB e a Dom Távora, lembro que ele e a arquidiocese sempre precisavam de passagens aéreas para padres, freiras, técnicos, professores, que sempre vinham prestar serviços em Aracaju ou sair daqui, via aérea, para outros estados, em várias atividades e o Bispo não tinha acanhamento – pedia passagem para muita gente, não só em nossa Agência como em outras. Interessante é que quando era ele que precisava viajar, sempre fazia pela Cruzeiro do Sul que aproveitava para registrar na imprensa um pouco de promoção e publicidade da companhia.
Nos anos 60 passei a prestar assessoramento ao então agente credenciado do Loide Aéreo Nacional, o amigo José Augusto Barreiros de Azevedo, que, hábil, trouxe a Sergipe para uma visita, o Presidente da Companhia, Coronel Marcílio Gibson Jackes e levou-o para uma conversa amiga com Dom Távora; quando ele saiu da visita, passou na agência e deixou, por memorando, autorização para, mensalmente, a empresa fornecer como cortesia, duas passagens aéreas a critério do chefe da Igreja, seja para viajantes a serviço do MEB, da Rádio Cultura ou da Diocese. Bastava um telefonema indicando o nome do favorecido e o percurso desejado – não tinha limites de trecho, eram simplesmente duas passagens. Interessante é que os bilhetes de passagens eram emitidos à vista, preço integral e compensada a despesa na prestação de contas diária.
E assim resolveu-se por um bom tempo o problema de locomoção aérea de pessoas indicadas pelo Bispo. A credencial valeu até que o Loide Aéreo Nacional foi encampado pela Viação Aérea São Paulo (VASP) e a nova direção suspendeu todas essas concessões.
Tempos depois fomos convocados para dizer quem eram as pessoas beneficiadas com essas passagens – nomes, trechos voados, datas, profissões e tudo mais. Não foi possível responder, não havia registro de nada e, naturalmente, ainda não se praticava o grampo telefônico.
Com esse texto estou registrando uma breve homenagem e parabéns à Rádio Cultura e seus atuais dirigentes pelos 55 anos de bons serviços prestados à coletividade sergipana, sem preconceitos e dentro dos cânones da Igreja de Jesus Cristo, de Maria Santíssima e do Papa.
Ah!, sim, sobre Dom Távora e José Augusto Barreiros de Azevedo ainda tenho o que escrever sobre seus relacionamentos, algumas consequências e outros fatos, inclusive uma expectativa política, à época.

* Raymundo Mello é Memorialista
raymundopmello@yahoo.com.br

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