ESPIRITISMOS
Publicado em 24 de agosto de 2024
Por Jornal Do Dia Se
* Manoel Moacir Costa Macêdo
O Brasil é um País majoritamente cristão na diversidade de crenças. A história brasileira marcada pela escravidão africana de quase quatro séculos, desde o Descobrimento, seguindo a Colonização, e com repercussões atuais, tem sido influenciada pelo poder da Igreja Católica. Longo período de doutrinação católica no interior das estruturas da sociedade. Houve um tempo na humanidade, em que a Igreja Católica e o Poder Político eram únicos e divinos.
Em números redondos, foram declarados cristãos no Brasil: 65% católicos, 22% evangélicos, 2% espíritas. Os demais ateus e crentes em outras religiões. Cenários prospectam o crescimento dos evangélicos. Não está em discussão os simpatizantes de determinadas doutrinas, mas os seus praticantes. Os evangélicos estão presentes no Congresso Nacional pela “Bancada Evangélica”, nos programas de televisão, nas igrejas batistas, pentecostais e neopentecostais, nas cidades, povoados, classes sociais subalternas, e nos invisíveis das favelas e masmorras carcerárias.
A maioria cristã-católica, não consegue com sua longa histórica e influente dogma da “salvação ao reino dos céus”, estagnar as perdas de fiéis. Abandonou a opção pelos mais pobres, fundamentada na Teologia da Libertação, estabilizou as pastorais sociais e acomodou as transformações perante à conservadora classe média. O atual pastor católico, com visões apartadas dos dogmas medievais, promovem pontuais renovações, mas, questionadas pelos segmentos conservadores do catolicismo.
Os espíritas brasileiros, no sentido descrito no “Dicionário da Doutrina Espírita”, aparentam satisfação com abaixa estatística de seus seguidores. No dizer do “termo francês, criado por Allan Kardec, significa quem tem relação com o Espiritismo, e reconhecido pela transformação moral e esforços para domar as más inclinações”. Na mesma perspectiva, o “Espiritismo, também oriundo do francês Espiritisme, pelo mesmo Codificador, indica uma doutrina filosófica, científica e de conseqüências morais, fundamentada na existência dos Espíritos, na imortalidade da alma, nas leis morais, na vida presente e futuro da Humanidade”,como espíritos reencarnados.
“Espírita e Espiritismo” no Brasil, são identificados como “Espiritismo e Espíritas Kardecistas”, seguidores da doutrina codificada pelo professor francês Allan Kardec. Prática religiosa livre de dogmas, ritos, promessas e autoridade eclesiástica. Inovação do Século XIX, baseada na “fé raciocinada, fatos e observação e não imaginação”, e “as ações em direção ao próximo, como as melhores preces”.
Nesse sentido, são declarados espíritas no Brasil, os minoritários quatro milhões de crentes. Crenças antigas que acolhem a continuidade da vida após a morte física, não tem sido acolhidas pelo “Espiritismo Kardecista”. O professor José L. Santos da UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas, na obra “Espiritismo: uma religião brasileira”, entre outros questionamentos, mostra por exemplo, que a Umbanda, religião essencialmente brasileira, com raízes afrodescendentes, dedicada ao bem e a caridade por seus Orixás, não é acolhida como “Espiritismo” no sentido aqui abordado. Para ele, “as características rituais da umbanda incomodavam os dirigentes espíritas”.
Registros históricos mostram que a Umbanda continuou considerada espírita pela FEB – Federação Espírita Brasileira no ano de 1953. No entanto, em 1958, “o principal órgão da imprensa espírita [o centenário] O Reformador, definia [a Umbanda] como imprópria, abusiva e ilegítima”, a prática que tinham os umbandistas de se denominarem espíritas.
Jesus Cristo, o espírito supremo e protetor da Terra, não criou nenhuma crença, religião ou Igreja. Ele deixou lições e ensinamentos divulgados por seus apóstolos e discípulos de libertação dos oprimidos. Os seus escolhidos foram os pobres, doentes, miseráveis, prostitutas e desvalidos de quase tudo na Terra.
Ao final, como pregou a Madre Tereza de Calcutá, devota do cristianismo em sua essência, “as mãos que servem são mais santas que os lábios que rezam”.
[SANTOS, J. L. dos. Espiritismo: uma religião brasileira. Campinas, SP: Editora Átomo, 2004.].
* Manoel Moacir Costa Macêdo é engenheiro agrônomo, advogado e espírita.