Fogo no planalto

“A prisão de Milton Ribeiro desce rasgando pela garganta do presidente Bolsonaro”

O pastor Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação de Jair Bolsonaro, amanheceu com a Polícia Federal à porta de casa, em cumprimento a um mandato de prisão preventiva expedido pela Justiça. Os argumentos legais que embasaram medida de tal gravidade ainda não foram divulgados. As circunstâncias em que a prisão se deu, ao contrário, são de conhecimento público, escandalosas.
A prisão de Milton Ribeiro desce rasgando pela garganta do presidente. Quando o escândalo começou a ganhar volume, empenhado numa espécie de operação abafa, Bolsonaro afirmou não ver “nada demais” na maneira como o seu ministro administrava os recursos do Fundo Nacional de Educação. As denúncias, entretanto, eram robustas, apontavam para a corrupção mais descarada e o tráfico de influência, só para começo de conversa. Mesmo assim, o presidente afirmou botar “a cara no fogo” pelo subordinado.
Quem brinca com fogo corre o risco de se queimar. A demonstração de força e indiferença com o humor da opinião pública durou pouco. “Nada demais”, afirmou o presidente Bolsonaro, num primeiro momento. Dias depois, no entanto, a exoneração do ministro Milton Ribeiro foi publicada no Diário Oficial da União.
Bolsonaro gosta de afirmar que a sua gestão passa incólume por escândalos de corrupção, uma mentira deslavada. Em 2019 o ministro do Turismo Marcelo Álvaro Antonio foi acusado de falsidade ideológica, associação criminosa e apropriação indébita, em inquérito da Polícia Federal. Ano passado foi a vez do ministro Ricardo Salles, do Meio Ambiente, ser acusado de patrocinar os interesses de madeireiros investigados por extração ilegal. Além disso, convém lembrar o episódio ainda impune relacionado à aquisição de vacinas contra a covid e a compra de apoio político no congresso, por meio do chamado orçamento secreto. São todos casos exemplares de corrupção.