FRATERNIDADE E EDUCAÇÃO – A PEDAGOGIA DA ESCUTA
Publicado em 02 de abril de 2022
Por Jornal Do Dia Se
Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos
A sabedoria popular é bastante assertiva quando diz que temos duas orelhas e uma boca, sobretudo para ouvirmos mais e falarmos menos. O falastrão se envaidece da própria voz, anula e irrita o outro e não lhe permite ter a sua própria fala, expressão e direito à manifestação do que sente e do que percebe do mundo. A Campanha da Fraternidade deste ano afirma que “(…) escutar é uma condição para falar com sabedoria e ensinar com amor” (p. 25).
Estou na educação desde 1994. Comecei na escola privada e logo me firmei na vida pública, atuando até 2009 na Educação Básica. Aprendi ao longo desses anos que a melhor forma de ensinar é saber ouvir. A vaidade intelectual e a arrogância não conduzem ninguém a lugar nenhum e não ajudam na edificação do sujeito aprendiz. Aprendi e tenho aprendido muito com meus alunos, partilhando o conhecimento que adquiri e os orientando para a vida.
Tenho, na medida do limite e de minhas limitações, colaborado para a construção e reconstrução de suas vidas, “reorientando seus rumos” quando necessário e solicitado para tal fim e missão. Em nosso tempo, onde a democratização dos meios de comunicação se tornou uma faca de dois gumes, somos convidados, na família, na escola e na sociedade a viver a “cultura do encontro”.
Assim, o diferente e a diferença não podem ser motivos de desencontros, mas de nos colocarmos à prova a todo o momento, aprendendo a lidar com o inusitado, com a realidade, com a vida, com o imprevisível e com as ambiguidades da existência humana: “Educar para conceber a democracia como um estado de participação. Educar como ação esperançosa na capacidade de aprender do humano e de estabelecer relações mais fraternas em sociedade e com a natureza” (p. 35).
A pandemia nos impôs duras penas. Não somente a morte de nossos entes queridos e inúmeras consequências físicas. Mas, de modo particular toda uma série de problemas de ordem espiritual e emocional. As crianças e os adolescentes estão cada vez mais irritados e os adultos, ansiosos e deprimidos. Ao passo que a internet tentou minimizar o isolamento sanitário, também causou outros danos, deixando todos à mercê da tentação de um cem número de coisas sem limites e sem noção.
A Campanha da Fraternidade de 2022, em seu Manual, traz um rico e detalhado trabalho de análise do atual quadro educacional do Brasil, em todas as suas instâncias, ocupando espaços valiosos entre as páginas 40 e 62. Em linhas gerais, há muito por fazer e por ser refeito, pois a pandemia deixou algumas situações em condição e escala zero, terra arrasada mesmo.
Nesse cenário desolador de desesperanças, saber ouvir é o primeiro passo para uma reconstrução profunda e sem precedentes. Para tanto, o professor segue sendo “o profissional por excelência” (p. 40), capaz de fazer do ato de educar um gesto concreto de (re)humanização da sociedade, da gestação de um país menos desigual e fraterno, onde reine o bem-estar.
Nesse sentido, Rubens Alves é preciso e cirúrgico em sua reflexão sobre a arte de ouvir ou, como diz o mesmo, a “escutatória”: “Para mim, Deus é isto: a beleza que se ouve no silêncio. Daí a importância de saber ouvir os outros: a beleza mora lá também. Comunhão é quando a beleza do outro e a beleza da gente se juntam num contraponto”.