Genuflexão e falso testemunho

Rian Santos

riansantos@jornaldodiase.com.br

 

Se, um dia, para vergonha e desgraça da brava gente, a Democracia brazuca sucumbir ante o projeto de um talibã tropical, a dupla Mitidieri e Nogueira não poderá exibir as mãos limpas. Atenho-me aqui à teologia do domínio. Quem patrocina espetáculos de natureza religiosa com o dinheiro suado do contribuinte comete pecado, ainda há de responder por isso.

A teologia do domínio, convém iluminar os incautos, pretende submeter a vida pública ao domínio religioso dos cristãos (notadamente neopentecostais), e da interpretação enviesada que estes fazem da lei bíblica.

Assim, já não há evento no calendário festivo da aldeia sem que os políticos supracitados dobrem os joelhos para o eleitorado evangélico- desde o reinado de Momo, até o aniversário da capital sergipana. A genuflexão deixa de ser um ato de fé, convertida em falso testemunho.

Leio em matéria divulgada pela Prefeitura de Aracaju (ver nesta página): a comemoração do aniversário de Aracaju incluirá mais uma vez um “tradicional evento evangélico”, com a apresentação de cinco bandas musicais em estrutura montada pelo poder público. A afirmação da Prefeitura faz crer em um laço profundo entre o nascimento de Aracaju e o comércio de Edir Macedo, Silas Malafaia e R.R. Soares.

Edvaldo mente. A mencionada tradição não tem raízes enterradas em nosso quintal. Trata-se, antes, de um cálculo eleitoral dos mais inconsequentes. Consiste também em fazer vistas grossas para um projeto de poder dos mais perigosos em benefício próprio. Na prática, Edvaldo negocia com a própria fé na Democracia, relativiza a natureza primeva de um estado laico, secular e não confessional.

Mitidieri, o governador que fez de uma evangelizadora a gestora de toda a Cultura sergipana, não faz muito diferente do prefeito de Aracaju. Às vésperas da Páscoa, um feriado cristão, ele aproveitou a oportunidade para confundir proselitismo religioso com promoção do Turismo. A Vila da Páscoa Iluminada conta com 24 dias de shows dedicados a louvores e aleluias.

Outro dia, em uma infame manifestação golpista, a ex-primeira-dama Michele Bolsonaro afirmou com todas as palavras que o auto proclamado povo de Deus não adiará o projeto de transformar a República em uma teocracia evangélica. Eu tremo de medo. Mas, pelo visto, Edvaldo Nogueira e Fabio Mitidieri já disseram amém.