Quarta, 15 De Janeiro De 2025
       
**PUBLICIDADE
Publicidade

HOLOCAUSTO BRASILEIRO (III)


Publicado em 28 de junho de 2019
Por Jornal Do Dia


 

* Manoel Moacir Costa Macêdo
O linchamento no Brasil, pode ser tipificado como mais um "holocausto à brasileira". Silencioso e desconhecido de muitos. Descrito com rara exatidão na obra do Professor José de Souza Martins, destacado cientista social, resultado de uma pesquisa, sobre "a frequência dos linchamentos no Brasil, a forma e a função do justiçamento popular. Somos um dos países que mais lincham no planeta".
Um tema pouco explorado, restrito ao circuito policial e ao jornalismo investigativo. Escrita com rigor metodológico, marcos teóricos da história, da antropologia, e da sociologia, esse ímpar estudo "produziu um elenco de casos ocorridos no Brasil, baseados em trabalhosos registros de história oral e documental". Uma combinação de evidências qualitativas e quantitativas. Mostra de forma clara e objetiva a justiça do povo, e as revelações da morte pelos linchamentos. Revela com ineditismo, uma face da violência brasileira. "Os linchamentos expressam uma crise de desagregação social, e quanto mais se lincha, maior a violência". 
"Nos últimos seis anos, cerca de um milhão de brasileiros participou de, pelo menos um linchamento ou uma tentativa de linchamento". Dos 3.028 casos da pesquisa, 2.579 pessoas foram linchamentos consumados e tentativas de linchamento. Existem "indícios de que o negro pode ser uma vítima preferencial de linchadores, mas também, de negros participando de linchamentos de negros". Uma contradição entre oprimidos e opressores. Uma revelação de que a "justiça formal e oficial deixou de aplicar a pena de morte como sentença do Império até 1874, mas o povo continuou a adotá-la em sua forma antiga através de linchamentos". 
O linchamento, como a escravidão, são feições da herança histórica, de uma colônia escravocrata por exploração, reproduzida em formas contemporâneas, as consequências da cruel e persistente desigualdade. O abismo entre os maiores bilionários do planeta e a fatia mais pobre da população continua aumentando. 42 bilionários concentram a mesma riqueza da metade mais pobre da população global. Eles abocanham em média 82% da riqueza gerada no mundo. No Brasil, a perversa desigualdade mantém o injusto status quo entre desiguais. Os cinco maiores bilionários brasileiros possuem o mesmo que os 100 milhões da metade de baixo da pirâmide econômica. 
Os linchamentos, remontam a barbárie e a "justiça com as próprias mãos", perante os fracos e vulneráveis. Uma recusa à civilidade, a convivência social, e ao princípio sociológico da "solidariedade social". Uma concreta e silenciosa anomia. O abandono dos fundamentos do Estado, organização relevante na sociedade, como medianeiro dos conflitos sociais. A derrota do utópico e neutro papel estatal como árbitro numa sociedade de classes e desigual. Os linchamentos, alcançam com intensidade, os pobres, pretos e viventes nas periferias das grandes cidades. Quiçá, esse "holocausto brasileiro" e cristão, possa por um milagre divino, merecer similar misericórdia do Papa Bento XVI, ao visitar o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, expressão do holocausto nazista, disse: "Por que, Deus, o Senhor permaneceu em silêncio? Como pôde tolerar tudo isso? Onde estava Deus naqueles dias? Por que ficou ele em silêncio? Como pôde ele permitir esse massacre sem fim, esse triunfo do mal?" 
O linchamento no Brasil, é uma prova da decadência humanista, da desordem social, e da mística de que somos uma sociedade pacífica. Ao contrário, indicam um comportamento em favor das clandestinas milícias e da força paralela exercida ao arrepio da lei e do poder de polícia do Estado, em locais, normalmente dominados por facções do crime e do tráfico de drogas. O linchamento, expõe os "desacordos com alternativas de mudança social, que nega a racionalidade impessoal da justiça e do direito". Em outras palavras, ele acentua o rompimento do "contrato social". [MARTINS, José de Souza. Linchamentos:  A Justiça Popular no Brasil. São Paulo: Contexto, 2015].
* Manoel Moacir Costa Macêdo, Engenheiro Agrônomo, Advogado, PhD pela University of Sussex, Brighton, Inglaterra

O linchamento no Brasil, é uma prova da decadência humanista, da desordem social, e da mística de que somos uma sociedade pacífica. Ao contrário, indicam um comportamento em favor das clandestinas milícias e da força paralela exercida ao arrepio da lei e do poder de polícia do Estado, em locais, normalmente dominados por facções do crime e do tráfico de drogas

* Manoel Moacir Costa Macêdo

O linchamento no Brasil, pode ser tipificado como mais um "holocausto à brasileira". Silencioso e desconhecido de muitos. Descrito com rara exatidão na obra do Professor José de Souza Martins, destacado cientista social, resultado de uma pesquisa, sobre "a frequência dos linchamentos no Brasil, a forma e a função do justiçamento popular. Somos um dos países que mais lincham no planeta".
Um tema pouco explorado, restrito ao circuito policial e ao jornalismo investigativo. Escrita com rigor metodológico, marcos teóricos da história, da antropologia, e da sociologia, esse ímpar estudo "produziu um elenco de casos ocorridos no Brasil, baseados em trabalhosos registros de história oral e documental". Uma combinação de evidências qualitativas e quantitativas. Mostra de forma clara e objetiva a justiça do povo, e as revelações da morte pelos linchamentos. Revela com ineditismo, uma face da violência brasileira. "Os linchamentos expressam uma crise de desagregação social, e quanto mais se lincha, maior a violência". 
"Nos últimos seis anos, cerca de um milhão de brasileiros participou de, pelo menos um linchamento ou uma tentativa de linchamento". Dos 3.028 casos da pesquisa, 2.579 pessoas foram linchamentos consumados e tentativas de linchamento. Existem "indícios de que o negro pode ser uma vítima preferencial de linchadores, mas também, de negros participando de linchamentos de negros". Uma contradição entre oprimidos e opressores. Uma revelação de que a "justiça formal e oficial deixou de aplicar a pena de morte como sentença do Império até 1874, mas o povo continuou a adotá-la em sua forma antiga através de linchamentos". 
O linchamento, como a escravidão, são feições da herança histórica, de uma colônia escravocrata por exploração, reproduzida em formas contemporâneas, as consequências da cruel e persistente desigualdade. O abismo entre os maiores bilionários do planeta e a fatia mais pobre da população continua aumentando. 42 bilionários concentram a mesma riqueza da metade mais pobre da população global. Eles abocanham em média 82% da riqueza gerada no mundo. No Brasil, a perversa desigualdade mantém o injusto status quo entre desiguais. Os cinco maiores bilionários brasileiros possuem o mesmo que os 100 milhões da metade de baixo da pirâmide econômica. 
Os linchamentos, remontam a barbárie e a "justiça com as próprias mãos", perante os fracos e vulneráveis. Uma recusa à civilidade, a convivência social, e ao princípio sociológico da "solidariedade social". Uma concreta e silenciosa anomia. O abandono dos fundamentos do Estado, organização relevante na sociedade, como medianeiro dos conflitos sociais. A derrota do utópico e neutro papel estatal como árbitro numa sociedade de classes e desigual. Os linchamentos, alcançam com intensidade, os pobres, pretos e viventes nas periferias das grandes cidades. Quiçá, esse "holocausto brasileiro" e cristão, possa por um milagre divino, merecer similar misericórdia do Papa Bento XVI, ao visitar o campo de concentração de Auschwitz-Birkenau, expressão do holocausto nazista, disse: "Por que, Deus, o Senhor permaneceu em silêncio? Como pôde tolerar tudo isso? Onde estava Deus naqueles dias? Por que ficou ele em silêncio? Como pôde ele permitir esse massacre sem fim, esse triunfo do mal?" 
O linchamento no Brasil, é uma prova da decadência humanista, da desordem social, e da mística de que somos uma sociedade pacífica. Ao contrário, indicam um comportamento em favor das clandestinas milícias e da força paralela exercida ao arrepio da lei e do poder de polícia do Estado, em locais, normalmente dominados por facções do crime e do tráfico de drogas. O linchamento, expõe os "desacordos com alternativas de mudança social, que nega a racionalidade impessoal da justiça e do direito". Em outras palavras, ele acentua o rompimento do "contrato social". [MARTINS, José de Souza. Linchamentos:  A Justiça Popular no Brasil. São Paulo: Contexto, 2015].

* Manoel Moacir Costa Macêdo, Engenheiro Agrônomo, Advogado, PhD pela University of Sussex, Brighton, Inglaterra

 

**PUBLICIDADE



Capa do dia
Capa do dia



**PUBLICIDADE


**PUBLICIDADE
Publicidade