Segunda, 04 De Dezembro De 2023
       
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Jovens sergipanos eram explorados em SP


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Publicado em 29 de junho de 2012
Por Jornal Do Dia


Os produtos que os jovens de Itabaiana vendiam nas praias do litoral paulista: eles estavam há um mês no Guarujá/SP.

Gabriel Damásio
[email protected]

Um grupo de jovens sergipanos foi vítima de um esquema de exploração do trabalho análogo à escravidão no Guarujá (SP), região da Baixada Santista. Ontem, quatro rapazes e uma mulher, todos nascidos em Itabaiana (agreste do estado), procuraram a delegacia da cidade para denunciar que eram explorados por um homem que os obrigava a trabalhar como vendedores ambulantes nas praias da cidade, pagando-lhes apenas R$ 1,00 por dia, além de morar em uma casa com péssimas condições. O também sergipano Josevaldo Santos Santana, 36 anos, apontado como responsável pelo esquema, foi preso em flagrante na noite de terça-feirapela Polícia Civil paulista.

As vítimas têm entre 16 e 18 anos de idade, mas segundo a polícia, suas identidades ainda não estão oficialmente confirmadas. "Nenhum deles tem documento e alguns nem sabem a data de nascimento. Na conversa com um deles, quando perguntamos que dia ele nasceu, ele chegou a dizer que nem lembrava em que mês a mãe dele fazia o aniversário", disse o investigador Paulo Sérgio Carvalhal, chefe de investigações da Delegacia de Polícia do Guarujá. Ele acrescentou que sua equipe está em contato com a polícia sergipana para confirmar a identificação das vítimas.

Carvalhal relatou ao JORNAL DO DIA que os rapazes estão no Guarujá há cerca de um mês e estavam em condições "completamente absurdas" de sobrevivência. Os cinco estavam em uma casa no bairro Morrinhos1, área da cidade com grande concentração de migrantes nordestinos. No local, eles dormiam no chão, em colchões espalhados por uma sala, e não se alimentavam direito, pois as refeições eram cobradas. "De noite, quando eles queriam comer alguma coisa, um arroz-com-feijão, tinha a comida que a mulher do Josevaldofazia, só que eles tinham que pagar R$ 2,50 cada refeição. E eles recebiam apenas R$ 1,00 pelo dia de trabalho", disse o policial.

A hospedagem e outras despesas eram anotados em um caderno e cobrados dos rapazes. O caderno pertence aJosevaldo e foi apreendido. No boletim de ocorrência, ao qual o JORNAL DO DIA teve acesso, consta ainda que os ambulantes tomavam apenas o café da manhã e eram obrigados a tomar banhos frios "para economizar energia".  Afirma também que a dívida aplicada pelo acusado aos explorados era "sempre maior que o suposto crédito".
Segundo a polícia, Josevaldo esteve em Itabaiana e conseguiu convencer os rapazes a viajar para São Paulo, com a promessa de ganhar dinheiro e ajudar suas respectivas famílias – a maioria delas mora no "Bairro da Invasão", periferia da cidade serrana. Eles aceitaram a proposta e foram para o Guarujá sem a autorização dos pais e com despesas pagas pelo acusado. A função que eles exerceriam foi descoberta apenas na chegada deles: vender castanhas de caju e pedaços de sândalo (uma madeira aromática usada como incenso) nas principais praias da cidade paulista, como Enseada, Pitangueiras, Astúrias e Perequê, freqüentadas principalmente por turistas da capital e de outras cidades paulistas que costumam passar os feriados prolongados no Guarujá.

Taxa de volta – A jornada era longa, começando às 9h e terminando às 16h, a depender do movimento dos banhistas. Em todo esse tempo, os jovens ficavam expostos ao sol, sem qualquer proteção, e eram obrigados a repassar a renda do dia para Josevaldo. De acordo com jornais da Baixada Santista, a presença dos ambulantes nas praias já havia chamado a atenção de policiais do Guarujá, mas só foi confirmada quando os sergipanos procuraram a delegacia. "Eles deram queixa do rapaz relatando a situação e dizendo que queriam ir embora pra Sergipe, mas tinham sido informados que para voltar, eles teriam que pagar R$ 400 pelas despesas", disse Carvalhal, confirmando ainda que os jovens eram ainda ameaçados de morte por Josevaldo.

Após a queixa, os policiais do Guarujá foram até a casa do acusado e o prenderam em flagrante. Josevaldo, que é de Aracaju e estava em SP há dois meses, confessou tudo e, de acordo com o investigador, disse que estava "arrependido" do que fez e "não sabia" que sua atividade era crime. O sergipano foi autuado em flagrante pelo artigo 149 (reduzir alguém a condição análoga à de escravo) e pode ser condenado a até oito anos de prisão. De acordo com Paulo Sérgio, um inquérito foi aberto para apurar se o acusado explorava outras pessoas como ambulantes no Guarujá e se ele tinha a ajuda de outras pessoas, as quais também podem ser presas e processadas.

Os cinco jovens encontrados estão sob cuidados de assistentes sociais da Prefeitura Municipal do Guarujá, que buscam contato com familiares deles em Itabaiana para providenciar o retorno a Sergipe. Três deles foram encaminhados para um abrigo de crianças e adolescentes no distrito de Vicente de Carvalho, que pertence ao Guarujá. Os outros dois, maiores de idade, foram para o Albergue Municipal da cidade. 

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