(Divulgação)
**PUBLICIDADE
Nana Caymmi e o melhor de nós
Publicado em 03 de maio de 2025
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
.
Segundo Millôr Fernandes, as pessoas são maravilhosas quando não as conhecemos bem. Eu gostaria de ser menos implacável, ater-me somente ao que há de admirável nos homens de carne e osso. Morre um, no entanto, o seu pior vem à tona.
Aconteceu de novo, sob o pretexto de evocar a trajetória artística de Nana Caymmi. Antes mesmo de a cantora ser enterrada, o corpo ainda quente, matérias rasas e apressadas lembravam a sua infeliz adesão ao bolsonarismo.
A guerra cultural não perdoa ninguém. Ivan Valença, decano da imprensa sergipana, passou desta para melhor. Tão logo a notícia se espalhou, leitores amigos da intriga se apressaram a cobrar algo como um acerto de contas pessoal entre este jornalista que vos escreve e o defunto ilustre. Sem nada de bom a dizer de Ivan, eu me calei.
Não serei eu a julgar quem seja por suas sombras, um mal passo, uma infelicidade. Antes de falar bobagens sobre o justificado temor do militarismo sob Bolsonaro, Nana Caymmi gravou canções maravilhosas, com a elegância e a personalidade de uma diva tropical. Devo-lhe alguns bons porres, solitários e doídos. Ponto final.
Ainda vivo, após várias décadas batendo ponto nas redações, Ivan Valença colocou o ofício sagrado do jornalismo a serviço do golpismo. Ainda vivo, foi cobrado, em necessário embate público e, de minha parte, civilizado. Neste particular, tudo o mais é matéria de obituários.
Bons tempos, quando o mundo inteiro era uma grande esfera, redondo. Hoje, dividido em duas bandas, a vigilância é geral, o macarthismo indiscriminado. Progressistas, reacionários, fazemos as mesmíssimas cobranças. Caminhamos todos, lados opostos, um passo depois do outro, sobre o cadafalso.