Nem em sonhos

A sucessão dos acontecimentos não tem sido fácil para os brasileiros. Desde a emergência da crise mundial, num já distante 2016, sucedida anos depois pela pandemia ainda em curso, as projeções econômicas mais otimistas são contrariadas pelos dados concretos. A situação chegou a tal ponto que uma recuperação acelerada, em “V”, nas delirantes palavras do ministro Paulo Guedes, não é possível nem em sonhos.
Relatório divulgado pela Organização Internacional do Trabalho (OIT) alerta para o impacto global da pandemia de covid-19 no emprego e prevê recuperação lenta e incerta dos mercados de trabalho. Em bom português, o documento lembra, a situação é ruim. Mas ainda pode piorar.
A OIT estima que o total global de horas trabalhadas em 2022 permaneça quase 2% abaixo do nível anterior à pandemia – um déficit de 52 milhões de empregos em tempo integral. O desemprego global deve penalizar 207 milhões de trabalhadores. Estima-se que o desemprego global permaneça acima dos níveis anteriores à pandemia até, pelo menos, o ano que vem.
Embora o relatório da OIT abarque toda a economia global, a situação é mais grave em países como o Brasil, onde o governo federal lavou as mãos e responsabiliza a pandemia pela falta de providências. Há, no entanto, como amenizar os impactos da crise. Nos Estados Unidos, por exemplo, o presidente Joe Biden elaborou um ambicioso plano de recuperação econômica, movida a um volume bilionário de investimentos. Aqui, ao contrário, Bolsonaro preferiu usar os recursos públicos para comprar o apoio do Centrão.