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O Brasil precisa enxergar a guerra contra os matadores de ianomâmi


Publicado em 07 de fevereiro de 2023
Por Jornal Do Dia Se


Moisés Mendes

Homens sem dentes aparecem em vídeos que mostram garimpeiros invasores das terras ianomâmis. São bandidos, mas são também a versão amazônica da Fátima de Tubarão.
São a ralé do garimpo artesanal, que presta serviços a gente bem mais poderosa. São eles que fazem o serviço sujo, a mando de alguém ou por encomenda.
Os homens sem dentes são a parte visível de um gigantesco esquema criminoso sustentado por quadrilhas protegidas por Bolsonaro, com a conivência, a omissão ou a cumplicidade de militares.
É com essa ralé que o governo vai se entender de imediato pelos danos ambientais, pela rapinagem e pela matança de ianomâmis. Muitos desdentados devem ser presos.
Mas os homens com dentes, que circulam na área em aviões e helicópteros, esses não são vistos, mesmo que sejam conhecidos em toda a região.
Os garimpeiros do trabalho braçal são a parte visível do cerco que leva à matança. E será agora com o cerco a eles que vamos nos contentar por enquanto.
Lula já mandou cortar a circulação de aeronaves na região com o fechamento do espaço aéreo. Os manés do garimpo ficarão sem proteção e sem suprimentos.
O ministro da Defesa, José Múcio Monteiro, anunciou um mutirão das Forças Armadas para acelerar a repressão.
Polícia, Ministério Público e órgãos do governo se mobilizam para conter os criminosos. O Judiciário terá de se engajar à urgência do genocídio.
Mas nada é mais urgente do que a ação em mutirão para mostrar ao mundo, e não só Brasil, que todas as frentes andam na mesma direção.
Um esforço que não pode cumprir os ritos de situações de normalidade. Mais do que inquéritos céleres e processos que não andem só para os lados, o Brasil precisa agora, já, ver a ação contra os bandidos.
E ver significa o que o verbo diz: precisa enxergar. Todas as instituições terão de impor, pela presença ostensiva, a força do Estado.
É a hora do espetáculo do começo da reparação. Sim, espetáculo, como ação visível, impositiva, com a destruição prevista e legal de equipamentos e prisões em massa, em flagrante.
É disso também, da imposição do seu poderio contra o crime, que vive a democracia. Se as instituições tratarem os bandidos da floresta com as liturgias de tempos de normalidade, nada irá acontecer.
Como não aconteceu até agora com o gabinete do ódio, com os vampiros da vacina, com os golpistas financiadores de patriotas. Todos com fartura de dentes.
Os garimpeiros da chinelagem da Amazônia, assassinos de índios e indigenistas, mandaletes das gangues do garimpo, todos protegidos por Bolsonaro, esses terão de pagar pelo espetáculo que o Estado precisa oferecer aos brasileiros.
O Estado precisa dizer: nós estamos aqui. E convencer, por ação coercitiva, que está presente, lá onde o crime acontece, e não só nos gabinetes de governo ou do sistema de Justiça.
Ninguém espera que peguem todo mundo. O Ministério Público calcula que 20 mil garimpeiros atuam na região.
Não há como flagrar e prender todos. Peguem o que é possível pegar, como aconteceu dia 9 de janeiro com os manés de Brasília.
Mas peguem com estardalhaço, com pompa, como demonstração de força. Promovam, num dia, o espetáculo da limpeza das terras ianomâmis.
Não como fazem nas favelas. Não. Não cheguem matando. Cheguem destruindo máquinas e equipamentos, como manda a lei, e prendendo os bandidos.
Façam como deve ser feito, com ação integrada, legal e legítima de todas as instituições.
Não trabalhem com muita discrição. Atuem com determinação, porque estamos em guerra, em nome dos ianomâmis que foram assassinados.
A partir da prisão dos homens sem dentes, cheguem aos homens com boas dentaduras.
Para que os grandões não fujam de novo, como fazem os donos de frotas de helicópteros e aviões e os grandes negociantes de ouro.
As cenas do sofrimento de crianças devem ter, como contraponto, imagens da prisão de bandidos, mesmo os pequenos, que poderão levar aos bandidos graúdos.
A repórter Sônia Bridi mostrou na Globo que os garimpeiros reagiam com naturalidade e sem medo diante da aproximação de helicópteros da FAB. É uma informação terrível para as Forças Armadas.
O Brasil precisa enxergar o Estado tentando salvar a floresta e o povo da floresta. E o Estado precisa se livrar da percepção dos próprios criminosos de que é sócio do genocídio.

Moisés Mendes é jornalista, autor de “Todos querem ser Mujica” (Editora Diadorim). Foi editor especial e colunista de Zero hora, de Porto Alegre (Para o Jornalistas pela Democracia)

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