Fruição, teorias e muito barulho… (Divulgação)
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O misterioso Banksy
Publicado em 13 de agosto de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Ele não para. Na sétima intervenção artística realizada em apenas uma semana, o misterioso Banksy elegeu uma cabine de polícia no centro de Londres como plataforma, transformando-a em um tanque de piranhas. Usuários do Instagram, a rede em que Banksy assume a autoria de suas obras, elaboram teoriassobre os grafites em estêncil. A maioria, aponta para mensagens sobre a guerra na Faixa de Gaza, a extinção de espécies e críticas à extrema direita, um monte de bobagens. Neste caso, o artista se dispõe ao entretenimento.
A supervalorização do discurso elaborado por Banksy, no entanto, tem, sim,razão de ser. Sem exibir as fuças, sem dizer uma palavra, o dito cujo talvez seja dos sujeitos políticos mais assertivos do tempo presente.
Não há questão sensível nos dias de hoje sobre a qual ele não tenha oferecido pitaco. Às vezes o lapso entre episódio e comentário se estende um pouco, sugerindo um esforço de compreensão indisposto ao calor apaixonado dos acontecimentos. De todo modo, o artista nunca abdica de um sentido visual para tomar partido e mandar o seu recado.
Exemplar, enunciado mais ou menos recente diz respeito às fraturas e erupções ferindo fronteiras indesejáveis no mapa europeu. O mural inspirado pelas baixas da União Europeia tomou a fachada de um prédio localizado justamente na divisa entre Reino Unido e França, duas nações cada vez mais distantes. A potência do trabalho explode em comunicação com a paisagem.
A estra
ela partida de Banksy adverte que os ideais de unidade, solidariedade e harmonia entre os povos da Europa já não são ponto pacífico. Faz pensar sobre refugiados e diásporas, conquistadores e colonizados. Dialoga, inclusive, com os conflitos fundiários tupiniquins e o desterro criminoso dos nossos povos indígenas. O mundo tomou um rumo perigoso e caminha a passos largos para um estado de guerrilha e de exceção.
A palavra de um artista não vale nada, nem um tostão furado. Todo o pensamento de um ente criativo é pronunciado pelo seu trabalho. Embora a tara pela mão oculta do sujeito enunciador venha ganhando status de pesquisa – cortesia de curadores muito jovens, ansiosos por afirmar a própria influência no fluxo de um circuito completamente alheio ao grosso da realização em arte visual, mundo afora -, o impulso por trás de uma assinatura é digressão de pouca ou nenhuma serventia para a fruição da obra materializada na caligrafia do autor. Em todo o processo, interessa apenas o comunicado no resultado. Isso tudo, Banksy ensina. O resto é teoria, o mais é barulho.