O QUE É DO HOMEM O BICHO NÃO COME
Publicado em 01 de setembro de 2022
Por Jornal Do Dia Se
Rômulo Rodrigues
Na propaganda eleitoral do candidato a senador em Sergipe, deputado federal pelo PP, empresário de exploração de mão de obra quase análoga à escravidão, Laércio Oliveira, foi chocante uma cena em que a senadora Maria do Carmo Alves oferece ao candidato uma relíquia do simbolismo de um dos homens mais destacados da história política do estado, que teve o feito de ultrapassar um período de final de um século e início de outro, com vigor, brilho e liderança.
A senadora Maria do Carmo ou, simplesmente, dona Maria, está em seu terceiro e último mandato e nas caminhadas eleitorais derrotou três gigantes da política do seu estado; Jackson Barreto, José Eduardo Dutra e Rogério Carvalho; os dois últimos do Partido dos Trabalhadores, com características de duelos de titãs nas duas primeiras, em que os vencidos estavam nas mesmas chapas dos governadores eleitos.
Ninguém pode dizer que D. Maria estaria fora da disputa eleitoral de 2022, caso disputasse a 4ª eleição, mas, sabedoria ela tem, para ter desistido da disputa.
Já ouvi de muita gente do povo, eleitores dela e do Dr. João que não era ele quem tinha a força da gente aracajuana e sim, ela.
Mas como cada eleitor e cada eleitora tem o seu conhecimento de Ciência Política particular, empírico ou não, vida que segue.
O fato marcante é que, com toda a autoridade para fazer o que fez, dona Maria não deveria ter exposto ao descaso, fruto da falta de educação e sensibilidade do senhor Laércio, um símbolo iconoclástico ou, exagerando, semiótico, como o chapéu de couro do doutor João, que foi quando ele usando-o em 1998, se auto intitulou de Negão.
Alguém poderá exagerar na critica interpretativa e dizer que o humilde escriba esteja postumamente dando o braço a torcer após tantos anos militando nas colunas políticas de oposição a ele, sendo a mais recente a disputa da eleição para a prefeitura de Aracaju em 2012, quando duelou e venceu o jovem deputado federal Valadares Filho.
Por favor, não exagerem na interpretação e nem apelem para o maniqueísmo político. Já há muito tempo que reconheço e torno público que Sergipe ofereceu ao panorama político brasileiro, nomes de grandes destaques como Seixas Dória, João Alves, Marcelo Deda, José Eduardo, Albano Franco e Jackson Barreto, cada qual com suas virtudes e cada qual com suas diferenças mas, todos com merecimentos do povo sergipano.
Por causa desses merecidos reconhecimentos é que interpretei como um descuido da senadora e uma falta de respeito enorme por parte do candidato, quando do fracassado simbolismo da entrega do chapéu, em que ele, sequer, teve a delicadeza de colocar na cabeça, talvez, num gesto inconsciente de reconhecimento de não pertencimento.
Será, de grande valia, para as gerações mais novas e as futuras, que todos os que pensem fazer justiça para os atos e fatos da política, que ninguém na história deste estado, deu mais poder de simbolismo ao chapéu de couro, do que João Alves Filho e, venhamos e convenhamos: o chapéu do Negão, não cabe na cabeça de Laércio, nem por merecimento e nem como instrumento de integração social.
O conceito de poder simbólico de Pierre Bourdieu, é de um poder invisível que só pode ser exercido com a cumplicidade daqueles que estão sujeitos a esse poder ou mesmo aqueles que o exercem e, venhamos e convenhamos, o candidato Laércio Oliveira, não se encaixa nem numa coisa, nem em outra.
Lembremos sempre: João, por mais que critiquemos e discordemos do seu impulso, meio que herdado de Mario Andreazza, de que governar era construir obras, o fato é que ele construiu muitas obras estruturantes para Sergipe e deve ser reconhecido. Ao contrário de Laércio Oliveira que o pouco que construiu foi em seu benefício, como a criminosa lei da terceirização e seus votos a favor das famigeradas reforma da previdência e trabalhista, que causaram milhões de desempregos e cassaram milhões de aposentadorias. Sem nunca ter sido amigo nem aliado, nem partidário de João Alves Filho, guardo a boa lembrança de ter votado em Lula no segundo turno de 1989 e, por isso, sem ter procuração, peço que zelem pelo seu chapéu de couro.
Rômulo Rodrigues, sindicalista aposentado, é militante político.