Parasitas
Publicado em 09 de fevereiro de 2020
Por Jornal Do Dia
Há pouco mais de um ano, ao tomar posse como presi dente da República, Jair Bolsonaro prometeu supe rar a beligerância das últimas eleições e fazer de tudo para pacificar o Brasil. Disse uma coisa e fez outra. Desde então, o clima de guerra é insuflado o tempo inteiro, um dia após o outro, sem descanso.
O próprio presidente é dado a realizar declarações pouco responsáveis. Ataca a oposição; ataca prefeitos e governadores eleitos como ele; ataca a imprensa. Não espanta, portanto, que ministros e secretários do governo federal, seus colaboradores diretos, invistam também na retórica inflamada.
Na semana passada, o ministro da economia Paulo Guedes acusou os servidores públicos de sugar os cofres públicos. Segundo ele, direitos consagrados pela Constituição, a exemplo da estabilidade do funcionalismo, transformariam os servidores em verdadeiros parasitas. Poderia ser apenas uma declaração desastrada, mas junta-se a inúmeras outras, traduz uma orientação equivocada segundo a qual a deficiente rede de proteção social tecida ao longo dos últimos anos, desde a redemocratização, é incompatível com o desenvolvimento da economia nacional.
A declaração de Paulo Guedes foi realizada com o intuito de defender a reforma administrativa pretendida pelo governo. Mas, a bem da verdade, reafirma os valores em voga no primeiro escalão da República. Os governantes de turno cultuam o extrativismo, o obscurantismo e a precarização das relações de trabalho. Nas palavras célebres de Millôr Fernandes, o País tem um longo passado pela frente.