PEPEU – 70 ANOS E MIL E UMA NOITES DE AMOR
Publicado em 12 de fevereiro de 2022
Por Jornal Do Dia Se
Prof. Dr. Claudefranklin Monteiro Santos
Para além da discussão sobre quem inventou a guitarra, se os baianos Dodô e Osmar (1942, o pau elétrico) ou os americanos, outra ainda segue muito atual: quem é ou foi o maior guitarrista do Brasil e dos melhore do mundo. Pelo menos, foi assim que ouvir falar pela primeira vez dele, antes mesmo dos Novos Baianos e também de sua relação com Baby Consuelo, a primeira mulher a cantar num trio elétrico.
Para mim, que sou suspeitíssimo em afirmar, é o também baiano Armando Macêdo, do Trio Elétrico Armandinho, Dodô e Osmar. Para a revista americana Guitar World (1988) e para a revista Rolling Stone Brasil, é o soteropolitano Pedro Aníbal de Oliveira Gomes. Segundo Andreas Kisser, da banda Sepultura: “Pepeu é o mestre de todos nós. Ele e Armandinho representam a guitarra brasileira. É um som que você não encontra igual em nenhum outro lugar do mundo” (MAIOR e SCHOTT, 2014, p. 53)
Multi-instrumentista, cantor, guitarrista, violonista e compositor, Pepeu Gomes completou esta semana, no dia 7 de fevereiro, 70 anos. Nasceu em Salvador em 1952. Certamente influenciado pela mãe, que tocava piano, teve contato com a música desde muito pequeno, ouvindo no rádio os grandes nomes da música brasileira de seu tempo. Auditada, chegou a improvisar um instrumento de cordas em sua casa, usando um cabo de vassoura.
Com apenas 11 anos de idade, ele já havia formado a sua primeira banda: Los Gatos. Era a época da influência dos Beatles e da Jovem Guarda. Seis anos depois, fugiu de casa e formou outro grupo: O Minos. A partir de então, passou a viver profissionalmente da música. Não tardou, depois de alguns projetos, inclusive como apresentador de TV, a chamar a atenção de nomes como Gilberto Gil e Caetano Veloso. Foi de Gil que recebeu um presente, antes de partir para o exílio, que irá marcar toda a sua vida: um disco de Jimi Hendrix.
Em 1970, se une ao grupo Novos Baianos, ao lado de Moraes Moreira, Babey Consuelo e Paulino Boca de Cantor. Como o LP Acabou Chorare (Som Livre, 1972) conheceu o sucesso pela primeira vez. Arraigado a uma tradição brasileira de música, o grupo procurou mesclar o estilo ao rock em franca ascensão à época. Ficou na banda até 1978, quando, a exemplo de Moraes que já tinha tomado essa iniciativa em 1974, iniciou sua carreira solo.
Com o LP Geração do Som (1978), Pepeu Gomes atingiu logo o gosto popular e se consolidou como cantor e instrumentista. Até a presente data, foram 18 trabalhos solos. Com os Novos Baianos, gravou dez. Fez inúmeras participações em projetos de outros artistas, inclusive do próprio Armandinho, com quem chegou a compor algumas canções A esse respeito, a apresentação deles dois no Rock in Rio de 2001 ficou para a história do festival.
O repertório de Pepeu Gomes esteve presente em inúmeras novelas: Meu Coração – Marina (1980), Masculino e Feminino – Eu prometo (1983/1984), Deusa do Amor – em Amor com amor se paga (1984) e Boogie Oogie (2014/2015), Mil e uma noites de amor – Roque Santeiro (1985/1986), A lua e o mar – Tiêta (1989/1990), Sexy Yemanjá – Mulheres de Areia (1993); essa última, em particular, a minha preferida.
O relacionamento com Baby Consuelo começou na época dos Novo Baianos. Eles ficaram casados por 18 anos e tiveram seis filhos. Se separam no final dos anos 80. Em 2021, depois de vinte anos, ele e Baby voltaram a trabalhar juntos. Nesse ínterim, reeditaram os Novos Baianos, com Moraes Moreira e Paulinho Boca de Cantor. Apesar de rompidos matrimonialmente, sempre procuram manter a amizade. Uma coisa é certa, embora cada tenha seu talento particular e feito trajetórias de grande sucesso, a simbiose entre eles foi muito importante para a cena criativa da música brasileira, a exemplo de outros nomes como Rita Lee e Roberto de Carvalho.