Quem é Chico Mendes?
Publicado em 19 de fevereiro de 2019
Por Jornal Do Dia
* Valeria Guerra Reiter
"Se pelo menos os seringueiros e os índios parassem de morrer a toa, podia ser que a minha morte valesse a pena".
O fragmento acima fora proferido por FRANCISCO ALVES MENDES FILHO quinze dias antes de sua passagem abrupta: Seringueiro, sindicalista, ativista político e ambientalista brasileiro – nascido na década de 1940, em Xapuri, Acre.
A sua importância no Cenário Nacional nasceu dentro daquele coração que desejava salvar a Amazônia! O pulmão do mundo estava irrespirável, e as motosserras não queriam cessar seu espetáculo peculiar: Cortar as seringueiras nativas. Ele lutava contra o desmatamento, e no ano de 1977 participou da fundação do Sindicato dos trabalhadores rurais de Xapuri.
O pequeno grande Chico, tinha o jeito caipira de um homem com a face da doçura e o arrojo da batalha, como líder nato, só fora alfabetizado aos dezenove anos de idade, pelas as mãos do comunista Euclides Távora, um oriundo militante do Levante Comunista de 1935, e da Revolução de 1952, na Bolívia. Sua vida árdua de seringueiros brotara ainda na infância, filho de um migrante cearense, o pequeno Chico não teve vida acadêmica nos Seringais, pois seus proprietários não tinham nenhuma intenção de educar a ninguém.
O próprio Francisco Mendes disse ser um salvador da humanidade quando lutou pela seringueira e pela Amazônia. O homem que saiu do meio dos seringais rumo ao exterior, virou vereador e já sabia que se transformaria em HISTÓRIA prematuramente, como o primeiro parágrafo deste artigo demonstra.
E é este Chico da terra, do mato, do mundo, e da História que foi denominado "Um fato irrelevante" pelo novo ministro do Meio Ambiente do governo brasileiro no ano de 2019: "Que diferença faz quem é Chico Mendes neste momento?" disse o ministro.
E a marca genuína deixada como lastro por este caboclo grita através dos livros, artigos, documentários e outras fontes de registro o quanto heroico foi este Chico que no dia 22 de dezembro de 1988 foi morto a tiros de espingarda – em seu quintal na sua terra natal, deixando órfãos seus dois filhos: Elenira e Sandino; frutos de seu casamento com Ilzamar, a quem Chico conheceu e alfabetizou ainda criança.
Um homem marcado para morrer, assim Chico se intitulava; ele queria viver; sua atuação junto a ONU, em uma reunião que ele era o único representante brasileiro em 1987, pode ter sido a gota d água para que os fazendeiros incomodados o liquidassem como ser humano e ideia.
Chico Mendes é muito mais que este breve relato, ele é maior que todo o movimento que girou em torno dele, e só ele foi alvejado. Hoje, seu nome não pode ser atirado à lama, para soterrar sua visibilidade de homem público que ajudou Luís Inácio Lula da Silva a fundar o Partido dos Trabalhadores, no Acre. Sua trajetória aliou índios e seringueiros para formalizar a união dos povos da floresta.
E seu sangue derramado fez com que no ano de 1990, as reservas extrativistas fossem reconhecidas por decreto-lei, sob a égide do governo Sarney, O vencedor post-mortem do premio de MEIO AMBIENTE , em 1990, foi para o inesquecível e memorável e jamais irrelevante herói nacional: CHICO MENDES.
* Valeria Guerra Reiter é escritora