O deputado federal Rogério Carvalho, presidente estadual do PT
Rogério: "Temos o desafio de pensar uma nova etapa para o PT"
Publicado em 15 de outubro de 2012
Por Jornal Do Dia
O presidente estadual do Partido dos Trabalhadores, deputado federal Rogério Carvalho, faz um balanço positivo do processo eleitoral no estado, quando o grupo liderado pelo governador Marcelo Déda (PT), segundo ele, fez cerca de 50 prefeituras e consolida o projeto.
O deputado fala também da derrota do grupo político na capital, Aracaju, e da reconstrução do Partido dos Trabalhadores. Lei a integra da entrevista com o presidente estadual do PT:
Jornal do Dia – Passado o processo das eleições, qual a avaliação do senhor sobre o resultado?
Rogerio Carvalho – Primeiro, o fantasma que todo mundo achava que acabaria com o PT, o julgamento do Mensalão, não se concretizou. Nós conseguimos ter um desempenho melhor do que o de 2008, sendo um dos partidos que mais cresceu, saindo de 550 prefeituras no interior para 628, e vamos para a disputa em 17 das 50 cidades em que haverá segundo turno. Ainda aumentamos em mais de 1.200 o número de vereadores de 2008 para cá. Então, o PT teve um desempenho muito bom. Aqui em Sergipe, o quadro geral das eleições mostra uma vantagem grande do ponto de vista de prefeitos eleitos no nosso campo, o que assegura condições objetivas da gente ter força para a disputa de candidaturas.
JD – Em 2010, depois do processo de redemocratização, foi a primeira vez que um grupo de esquerda perdeu as eleições na capital. Na época, o governador Marcelo Déda e o prefeito Edvaldo Nogueira disseram que tinham entendido o recado das urnas. Em 2012 perderam a eleição na capital novamente. Onde faltou o entendimento do recardo das urnas?
Rogério – Olha, eu diria que nós estamos fechando um ciclo de mais de 12 anos só nesse período de governo, mas na prática em Aracaju são mais de 25 anos de um ciclo de um grupo político à frente da administração municipal. E isso esgota pra o eleitoral a ideia de margem para conquistar novos sonhos, novas expectativas, ou seja, as pessoas conhecem tanto quem está no governo, que já não nutrem nenhuma expectativa para realizar desejos e sonhos que as pessoas têm. Talvez a ideia de uma alternância de poder desmistifique a ideia que os eleitores estão tendo de que, com o outro grupo vai ser possível, por exemplo, dar aumento ao servidor, vai ser possível fazer grandes obras, fazer aquilo que as pessoas gostariam que tivesse sido feito e não poderá ser feito em função das questões objetivas do município. Então, acho que esse tempo vai ser fundamental para o amadurecimento do nosso eleitorado e da nossa população em relação aos grupos políticos que governam as cidades, e isso faz parte do processo democrático e dificilmente modificaria os rumos pela compreensão dos líderes que estiveram à frente da Prefeitura.
Quem tem que compreender e passar pelo processo de amadurecimento é a sociedade. Não são somente os políticos, a sociedade precisa em alguns momentos da historia estabelecer uma comparação e medir para saber qual o melhor para a sociedade, o que foi melhor, como está sendo o presente e qual é o melhor para o futuro. Acredito que tudo isso no final das contas vai ser positivo para a evolução da sociedade.
JD – As administrações de Déda e Edvaldo Nogueira apresentam obras que mudaram a qualidade de vida dos aracajuanos. Mas, por outro lado, depois que esse grupo chegou ao poder, a esquerda sofre a primeira derrota na capital e perde a prefeitura. Onde está o erro?
Rogério – Então, eu tenho impressão que erros foram cometidos, talvez na relação direta com a população e talvez isso não tenha sido nutrido nos últimos anos, talvez esse tenha sido o maior problema, o distanciamento da população, principalmente da população que mora nos bairros de Aracaju. Além desse problema, tem também o esgotamento da expectativa das pessoas em relação ao grupo politico que está há muito tempo governando a cidade, ou seja, ela já não vê mais possibilidade desse grupo atender as suas expectativas, e aposta no outro grupo, e os condicionantes do grupo que está no poder hoje e pro grupo que virá assumir o poder, os condicionantes são os mesmos, e isso fatalmente vai levar a uma compreensão melhor da sociedade do processo político e dos limites objetivos que as cidades têm para atender expectativas.
Então, ainda vivemos o tempo das grandes ilusões na política, onde os candidatos apresentam e vendem uma ideia de que com ele vai ser muito melhor e a sociedade ainda não tem a compreensão de que assim como nas nossas casas, apesar de a gente sonhar, a gente faz o que as condições objetivas de vida permitem. Da mesma forma são nas cidades, e acredito que, com o tempo e com mais experiência democrática a sociedade vai ter este grau de amadurecimento, e situações como estas de a gente ressuscitar pessoas que já tiveram oportunidade, que tiveram vários problemas ao longo da história no exercício de cargos públicos, pessoas com essas características não voltem mais a ocupar espaço de poder.
JD – No processo das eleições de 2012 já se discutia as eleições de 2014. O senhor acha que esse grupo que vem unido desde a eleição de 2004, quando reelegeu Déda prefeito, vai se manter unido até 2014?
Rogério – O PT fez um esforço enorme nesse sentido. Ao abrir mão da sua candidatura em Aracaju, o PT apostou na unidade deste campo de aliança e acredito que é hoje uma necessidade e até mesmo o compromisso de todos os partidos que estiveram em 2008, que estiveram em 2010, com exceção do PSC, e que agora caminharam juntos na disputa de 2012, caminhem juntos na disputa de 2014, até porque essa foi inclusive a construção de 2012, já foi uma aposta na unidade de 2014.
JD – O senhor acha que o afastamento, por problema de saúde do governador Marcelo Déda, acabou influindo na derrota em Lagarto, Itabaiana, Canindé do São Francisco e até mesmo em Aracaju. A presença do governador seria possível reverter o quadro em alguns desses municípios?
Rogério – Eu acredito que a doença do governador foi muito ruim e é muito ruim. Primeiro pelo ponto de vista familiar, pelo ponto de vista pessoal, mas nós ficamos todos aturdidos com a possibilidade de ter a maior liderança do nosso campo fora das disputas politicas temporariamente, e ainda mais no momento decisivo das eleições. Isso foi muito ruim e nessas cidades com certeza a presença dele poderia alterar resultados e poderíamos ter um desenrolar diferente do que a gente teve, por conta da força pessoal dele.
Na cidade de Lagarto mesmo, a força e a provação dele é impressionante, poderíamos ter um resultado diferente, assim como em Canindé do São Francisco, onde teve a maior votação proporcional nas eleições 2010, e isso com certeza traria algum impacto no resultado final.
JD – Nos meses de agosto e setembro, o então candidato a prefeito pelo PPS, Almeida Lima, chegou a dar sinais de que estava precisando de socorro. Faltou um pouco de percepção desse grupo liderado pelo governador e pelo PSB, em perceber que essa "agonia ou pedido de socorro" poderia se chegar a um entendimento e consequentemente se levar a eleição para um segundo turno? Faltou essa percepção?
Rogério – Eu não sei e não acho que tenha havido essa percepção, mas não posso falar da avalição do comando da campanha de Valadares Filho (PSB). Mas a minha avaliação é que o deputado Almeida Lima seguiu o caminho que produziu uma desacumulação difícil de ser revertida ao longo do processo, ainda que ele pudesse ser ajudado do ponto de vista das condições objetivas em tocar a campanha. Eu acredito que a escolha que ele fez produziu a diminuição do tamanho dele do ponto de vista eleitoral.
JD – O grupo liderado pelo governador sai fortalecido diante dos resultados apresentados em todo estado, já que os irmãos Amorim dizem que fizeram 47 prefeituras. O grupo do governador também diz que fez 47 prefeituras, mas o estado só tem 75 municípios. O grupo sai fortalecido do processo?
Rogério – Acho que a gente sai fortalecido porque a eleição não é a somatória de candidatos ou de prefeitos eleitos. Isso é importante, mas a eleição é a somatória de bases eleitorais consistentes, construídas em todos os municípios. Às vezes a gente negligencia a segunda força, ou a terça força, mas na eleição seguinte a segunda força pode ter mais prestígio e mais força do que a força que ganhou a eleição anteriormente, e a gente sabe que as necessidades de quem ganha uma prefeitura, a possibilidade do nosso campo consolidar mais de 55 prefeituras é muito grande em função das necessidades dessas prefeituras, dos mandatos de deputados federais que nós temos, do governo do Estado, em função da relação com o governo federal. Tudo isso favorece na conformação de alianças mais consistentes com prefeitos, e em outras cidades teremos com certeza a relação com a segunda força, e isso nos dar uma condição muito consistente para enfrentar qualquer disputa em 2014.
JD – Passando a embriaguez da eleição, qual é o próximo passo do Partido dos Trabalhadores a partir de agora?
Rogério – O próximo passo nosso é consolidar o partido, nós temos o desafio de pensar essa nova etapa para o Partido dos Trabalhadores. Nós temos que pensar na renovação dos quadros dos partidos, até porque nós tivemos até agora duas grandes lideranças que contiveram, ou seja, dentro da área de influência dessas duas lideranças, o partido cresceu, Marcelo Déda e José Eduardo Dutra, que já declarou que não tem mais pretensões em disputar eleições. Déda já vinha dizendo que disputaria um mandato e que transferiria estas lideranças para novos quadros que surgem no partido. Então, o grande desafio nosso é reorganizar o partido agora com novas lideranças, como Márcio Macêdo, Silvio Santos, Ana Lucia, João Daniel, Francisco Gualberto, Conceição Vieira, Iran Barbosa. Lideranças no interior, a exemplo de Oliver Chagas, em Itabaiana, Dilson de Agripino, Chico, Anderson, Esmeralda, de Carmópolis, eu, além de outras novas lideranças, e nós precisamos construir o partido com mais lideranças para que possamos manter os espaços que foram protagonizados por essas duas lideranças que tiveram uma importância muito grande na história política recente de Sergipe e para o nosso partido. Portanto, nós temos a tarefa de construir o partido com mais liderança para continuar forte e presente na vida politica do Estado de Sergipe.