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Sanha privatista
Publicado em 01 de abril de 2022
Por Jornal Do Dia Se
O rebaixamento do debate público redunda sempre em propostas simplórias para dar fim a problemas os mais complexos. Com o preço exacerbado dos combustíveis praticados no Brasil não ocorre de outro modo. Para o presidente Jair Bolsonaro, a privatização da Petrobras teria o condão de resolver o impasse, num passe de mágica. Observadores mais atentos, entretanto, concordam que a simples transferência da empresa para um ente privado poderia até mesmo agravar a crise.
De fato, o buraco é mais embaixo. Em primeiro lugar, convém lembrar que a Petrobras é uma verdadeira galinha de ovos de ouro para a União. Não faz sentido se desfazer de uma empresa muito lucrativa, em função de preconceitos infundados. Assim como a estatal aqui em questão, há empresas que, além de exercerem função estratégica, rendem dividendos. Mundo afora, estas são intocáveis. A sanha privatista alardeada pelo presidente contraria o bom senso.
O grande problema a ser enfrentado é a política de preços adotada pela Petrobras. O modelo em voga é recente, começou a ser praticado durante o governo do presidente Michel Temer. A paridade com a cotação internacional do barril de petróleo, mais a dolarização do preço cobrado na bomba, rendeu uma fortuna inesperada para os acionistas. Naturalmente, os capitalistas com investimentos na empresa não abrem mão de manter o lucro nas alturas.
Não foi sempre assim. Hoje, os consumidores brasileiros bancam o luxo nababesco dos acionistas da Petrobras. O suposto risco de desabastecimento, argumento utilizado para justificar o sacrifício imposto à economia doméstica, entretanto, não encontra respaldo em números e estatística. Apesar de o mercado brasileiro ser aberto à concorrência desde 1997, quando a Lei do Petróleo foi sancionada, a Petrobras ainda é predominante em diversas áreas, como a de refino, por exemplo. Catorze das 18 refinarias do país pertencem à companhia. As quatro restantes respondem por apenas 1,4% da capacidade total do país. A desculpa não se sustenta.