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TEMPO DO BARULHO: SALVE O BARULHO


Publicado em 21 de setembro de 2024
Por Jornal Do Dia Se


* Manoel Moacir C. Macêdo; Gutemberg. A. D. Guerra; Manoel M. Tourinho

 

A sabedoria não se aprende nos bancos escolares. “Grades” curriculares e “disciplinas” de conteúdos “containers” são mais castrantes que motivadores da criação. A sabedoriaaflora frente aos desafios existenciais do viver, no cenário das ruas, por exemplo. O “tempo do barulho”, das campanhas eleitorais, expressa propostas consentidas frente à mudança social.Não importa se um espetáculo mais para circo, do que para a festa da democracia na essência teórica da “vontade geral”. Mas, não deixa de ser um barulho eivado de truques e sabedorias populares, desde as imagens, mensagens e locais de suas inserções.
A democracia não é apenas letras, cânones, normas e eleições. A democracia é exercício vivencial. No Brasil a convivência democrática ainda é recente e superficial. Somos testemunhas das crises da democracia brasileira no tempo que inicia no século passado ,e chega no primeiro quartil do presente século. Da República Velha em 1889 à atualidade são 135 anos, dos quais em apenas 36experimentamos uma democracia, mais eleitoral e menos substantiva em valores e transformações. Quase um século, sem o “barulho” do convencimento, da participação popular, ou até mesmo da criminosa compra do voto do eleitor. Racismo, preconceito, injustiça e desigualdade não estavam na pauta das restritivas campanhas eleitorais desse passado.
Tempo das relações sociais em alerta e imobilizadas. O pensamento crítico acuado e sem respostas imediatas. A democracia encurralada e surpresa. Evidências expostas da crise da democracia como forma de governo da igualdade, liberdade, livre expressão e defesa das minorias. Valores iluministas custosos à humanidade, que pareciam inquebrantáveis, estão sorrateiramente solapados. De início, de forma clandestina, e a seguir à luz do dia e desenvergonhadamente pela multidão de desesperados dopados pelos “salvadores da pátria”.
Conquistas democráticas aparentemente sólidas são neutralizadas por retrocessos gestados por extremistas do apocalipse, algoritmos virais e negação de ganhos civilizatórios. A democracia em ruína. Interferência externa globaliza e impede que as democracias nacionais evoluam. Cobrança e desilusão na contabilidade entre o prometido e o devido. Retorno assustador aos primórdios medievais e conflitos imperiais entre o Ocidente e Oriente. A mancha do fascismo retornou ardente, que aparentava mofada nos anais da história. Ressuscitou com vitalidade, primeiro no coração do Velho Continente, pátria da civilização e, a seguir mundo afora, incluindo a Nação exemplar da democracia ocidental. Para uns, tempo de “modernidade líquida”, onde tudo é efêmero e descartável, para outros o “novo extremismo da direita”.
Ambos abalam a democracia e o mundo numa aparente estabilidade política e social. O primeiro ataque foi aos alicerces da democracia, por métodos paridos no interior da própria democracia. Não se trata de luta de classes e nem revoluções ideológicas, mas governos autoritários estabelecidos pelo próprio poder popular, que dispensa fuzis e canhões, legitimados pelo sufrágio universal da escolha popular, como o direito de votar e ser votado.
Salve o “tempo do barulho”, como protesto ao silêncio autoritário, ao medo e insegurança de migrações de milhões de pobres. O “paradigma extremista em construção” abomina a democracia elaborada pelos pensadores clássicos, como o “governo do povo”, do livre pensar, agir, sonhar e da alternância de poder.
O extremismo de direita rejeita e reprime o “tempo do barulho”, mesmo com imperfeições e incongruências, e potencializa a “democracia dos despostas”, dos privilégios de minorias, e da “elite do atraso”. Ele sufoca a participação popular e cala o “tempo do barulho”, que ao final, ruim com o “barulho”, pior sem ele.

* Manoel Moacir C. Macêdo, Gutemberg A. D. Guerra e Manoel M. Tourinho são respectivamente engenheiros agrônomos e pós-graduados em ciências sociais.

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