Segunda, 16 De Junho De 2025
       
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Um conto de fraldas


Publicado em 02 de agosto de 2024
Por Jornal Do Dia Se


No calor de um estampido (Divulgação)

Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
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Vivo um conto de fraldas. Lorena nasceu há pouco mais de 30 dias. Desde então, só tenho olhos para a minha menina.
Os amigos comentam imagens registradas enquanto eu ninava Loló, falam de imagens fadadas à posteridade. Trump, odiento, o punho erguido de um mártir aguerrido. O surfista Bruno Medina, quase divino. Eu, de minha parte, coleciono as caras e bocas de uma bebê linda. Mas, nem assim, estive completamente imune aos acontecimentos.
De raspão – “A mão de Deus”. Assim, em tom fatalista e místico, comentaram o atentado tentado contra Donald Trump no bar onde sentei para fazer hora na hora do rush – quando o tráfego intenso de automóveis sugere violências inconfessáveis. Ouvi e dei de ombros. Os disparos nas páginas da História já alvejaram gente mais relevante.
Lá mesmo, sob as barbas do Tio Sam, a política sempre foi ofício de destemidos. Kennedy, um tantinho progressista, deixou órfãos e viúva. Martin Luther King foi derrubado por acalentar um sonho. Trump, ao contrário, foi vítima da própria retórica odienta. Agora se faz de vítima, emula o martírio dos mártires.
Pior de tudo, a julgar por falso consenso, não cai bem apontar a trajetória do projétil, desde a boca suja  até a zureba de Trump. Quem se atreve, logo se vê coagido a se retratar, como se faltasse com a verdade.
O ator e músico Jack Black cancelou a turnê e adiou os  planos da banda Tenacious D, após declaração de seu parceiro, KyleGass, em um show na Austrália. A apresentação da dupla aconteceu no domingo, dia do aniversário de Gass. Quando Jack perguntou o desejo do colega, Gass respondeu: “Não errem o Trump na próxima vez”. Caiu o mundo.
Jack Black afirma ter sido “pego de surpresa” e jura de pés juntos que “nunca apoiaria discursos de ódio”. Gass se desculpou dizendo que a piada foi “inapropriada”. Eu, de minha parte, comemoro o ato falho de um roqueiro pra lá da meia idade. Os intervalos de supressão da razão arejam o debate público, mesmo quando se dá em termos pouco educados.
Episódios assim prosaicos mudam o rumo das nações. Trump levou um tiro de raspão. Oportunista, levantou e fez pose para a foto. Não contava com a renúncia de Joe Biden. Apesar do poder indiscutível da imagem forjada no calor de um estampido, a História ainda está para ser contada. A conferir, portanto.
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