Mais um carnaval regido pela pandemia.
Uma página em branco
Publicado em 26 de fevereiro de 2022
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
Por minha vontade, o leitor estaria com os olhos espetados numa página em branco, a melhor tradução para mais um ano de carnaval regido pela pandemia. Mas eu preciso justificar o meu salário, ainda que ninguém solte confetes e serpentinas. De outro modo, Elenilton Pereira e Gilvan Manoel certamente tomariam o esforço de metalinguagem aqui aludido por simples preguiça ou – pior ainda! – excesso de cachaça.
Convém trazer o pensamento à ponta da pena, à flor da palavra. Para tanto, recorro a balanço promovido pelo Ecad. Segundo o Escritório Central de Arrecadação e Distribuição, a suspensão do carnaval gera um déficit expressivo no bolso de muita gente.
Sem os grandes eventos carnavalescos, públicos e particulares, sem os bloquinhos de rua subindo e descendo as ladeiras, virados no diabo, o comércio e o turismo amargam prejuízos. Pior ainda, sua excelência, o compositor popular, periga passar o feriado a pão e água, pendurado no fiado.
Segundo o relatório ‘O que o Brasil ouve’, uma previsão de como a arrecadação e a distribuição de direitos autorais de execução pública serão afetadas em mais um ano sem a realização do carnaval no país, o samba soa triste, mas sem a elegância e a beleza dos versos de um Paulinho da Viola.
A previsão do Ecad é arrecadar R$ 6 milhões no período do carnaval, um tombo de 62% em relação ao valor arrecadado em 2020, antes da pandemia do coronavírus. Até o final do mês de janeiro, foram arrecadados 41% dessa estimativa, que, de acordo com a área responsável, é referente a eventos já licenciados e pagos previamente, acordos de pagamentos antigos, entre outros caraminguás.
“Em 2022, a folia ainda não voltará a todo vapor no Brasil. Diversas capitais já anunciaram o cancelamento de shows e eventos, o que vai impactar a arrecadação e distribuição de direitos autorais de música. A instabilidade do cenário pode levar a uma arrecadação ainda menor que a prevista no início do ano”, afiança Isabel Amorim, superintendente executiva do Ecad.
A queda na quantidade de eventos e shows previstos para este ano também tem sido grande. Até a primeira semana deste mês, 94 shows e eventos de carnaval estavam cadastrados no Ecad, com previsão de realização neste período. Em comparação com 2020, quando os eventos estavam liberados, a queda é de 98%.
Mais do que a abstração dos números aqui descriminados, de grandeza estatística, resta nas ruas do bairro Cirurgia, por onde os foliões do Rasgadinho transbordavam de alegria e cerveja barata, a incômoda impressão de uma página em branco – O carnaval virado em falta, foto amarelada, uma saudade.
Queda na distribuição para compositores e artistas
Assim como aconteceu em 2021, este será mais um carnaval em que a pandemia vai impactar negativamente na renda de compositores, intérpretes e músicos. A previsão na distribuição de direitos autorais este ano é de uma queda de, pelo menos, 50% em comparação aos valores do ano passado, quando os eventos também não foram realizados no país.
Músicas mais tocadas nos últimos cinco carnavais
O Ecad fez um levantamento das músicas mais tocadas nos últimos cinco carnavais, de 2016 a 2020. Naturalmente, as tradicionais marchinhas se destacaram. Em primeiro lugar, ‘Me dá um dinheiro aí’, de autoria de Ivan Ferreira, Glauco Ferreira e Homero Ferreira; seguida por ‘Cachaça’, dos autores Marinósio Filho, Heber Lobato, Lúcio de Castro e Mirabeau; e por ‘Maria sapatão’, de autoria de João Roberto Kelly, Carlos, Chacrinha e Leleco, que completa o top 3.