Coroados por cabelos brancos(Divulgação)
**PUBLICIDADE
Xarope gospel
Publicado em 07 de agosto de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
A declaração de Caetano Veloso sobre o crescimento da população evangélica no Brasil diz mal de seus cabelos brancos, aponta o dedo para a espinha quebrada do mundo. Algo deu errado. Quando o baiano ostentava madeixas longas, transbordando em caracóis, na flor da idade, os Beatles eram mais populares do que Jesus Cristo.
Foi no Rio de Janeiro, em apresentação da turnê realizada com Maria Bethânia. Em determinada altura do show, Caetano preveniu a plateia, prestes a entoar um xarope gospel do pastor Kleber Lucas. E celebrou a conversão de grande parte dos brasileiros: “É uma coisa muito importante pra mim”.
Fiado em suas contas, talvez, ansioso para vender ingressos, virar notícia enquanto atravessa de novo aquela rua no Leblon, Caetano ignora o projeto de poder neopentecostal, a teologia do domínio, tolerante com os intolerantes. Nem todo crente tem pressa de atar os pés dos outros, acorrentar-lhes as mãos, atear fogueiras, amordaçar a boca dos ímpios. Mas, diferente do Cristo parido num estábulo, o deus das escrituras hebraicas, o deus do velho testamento, faz pactos, elege povos, condena, vingativo.
Curioso notar, toda a apresentação de Caetano e Bethânia é pontuada por macumbagens. Refiro-me não apenas ao esteio percussivo do repertório, mas também ao tema das canções.
O mano Caetano entoou “Deus cuida de mim”, sem demonstrar constrangimento. Eu duvido o pastor Kleber Lucas devolver o “favor” e louvar o Ilê, com a conhecida canção do próprio Caetano, para uma plateia de evangélicos, durante um show, durante um culto. Eu duvido.