A turma do camarote está animada (Divulgação).
Sextou!
Publicado em 16 de agosto de 2024
Por Jornal Do Dia Se
Rian Santos
riansantos@jornaldodiase.com.br
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Por falta de coerência, a candidatura de Luiz Roberto não peca. Apoiado pelo governador Fabio Mitidieri, notório homem abadá, Luiz Roberto conta justamente com o chicleteiro Fabiano Oliveira como companheiro de chapa. Parece piada, mas não é. A turma do camarote está animada.
Eu sou do pé no chão, não me conformo com a ideia de um carnaval regido por corda, dividido entre blocos e pipoca.
Essa é uma questão de gosto e também de classe. Fabiano sempre defendeu o caráter supostamente “democrático” do Pré Caju, a sua galinha dos ovos de ouro. A sua concepção deturpada de participacão popular faz pensar nos destinos da Cultura se um dia, deus nos livre e guarde, ele assumir a Prefeitura de Aracaju.
A pré-campanha de Luiz Roberto nas redes, aliás, resvala na mesma simplificação tuiteira do empresário Fabiano, seu vice. Política não é só hashtag, assim como a Cultura extrapola o simples entretenimento. Para os abastados do trio elétrico, no entanto, tudo acaba em festa. A qualquer questionamento eles respondem: Sextou!
Ovos de ouro – O Pré Caju é um grande negócio, não há razão para o negar. Um empreendimento político, inclusive.
As maiores divergências já foram silenciadas pelos pracatuns que transbordam dos trios elétricos. O evento ganhou status de palanque suprapartidário. Gregos e troianos abraçados nos camarotes. Abadás coloridos sobre as bandeiras desbotadas de antigamente.
De acordo com matéria do jornalista Lucio Vaz publicada pelo Correio Braziliense há um bom par de anos, em 2011, quando causou certo rebuliço, Jackson Barreto (PMDB), Albano Franco (PSDB) Jerônimo Reis (DEM), José Carlos Machado (DEM) e Valadares Filho (PSB), além do baiano Emiliano José (PT), então deputados federais, destinaram quase R$ 16 milhões em emendas parlamentares para que a ASBT promovesse três edições de uma prévia carnavalesca que afrontava claramente uma série de direitos dos cidadãos sergipanos, impedidos de trafegar livremente pelas principais artérias da cidade nos dias de festa. Isso, pra não mencionar a conivência de governadores e prefeitos com a gastança ao longo de décadas, quando assumiram completa responsabilidade pela segurança, limpeza e organização do evento. Esquerdopatas e direitosos irmanados, braços dados em prol do axé baiano.
A boa vontade dos entes públicos com os promotores do Pré Caju, no entanto, não parou por aí. A festa foi incluída no calendário turístico e cultural da capital por lei municipal em 1993. Três anos depois, outra lei reconheceu a ASBT como entidade gestora e organizadora do evento. Depois, a associação foi agraciada com o certificado de utilidade pública estadual, sem fins lucrativos. A micareta chegou a ser reconhecida pelas autoridades como um evento estratégico, uma das principais cartadas para promover o turismo local. Os gestores nunca explicaram, contudo, porque depois do investimento vultoso, realizado durante mais de duas décadas a fio, nem mesmo aquele que já foi o principal financiador da festa reconheceu a capital sergipana como destino apropriado para os visitantes.
Foi o Ministério do Turismo quem indicou os 184 destinos adequados para receber os turistas durante a Copa do Mundo de 2014. No Nordeste, foram contempladas cidades do Maranhão, Rio Grande do Norte, Piauí, Pernambuco, Paraíba, Alagoas, Bahia e Ceará. Entre os nove estados nordestinos, Sergipe foi o único deixado de fora. E não poderia ser diferente. A ausência de investimento na cadeia produtiva da cultura local redundou numa espécie de não-lugar simbólico, sobre o qual nenhum traço de autenticidade prospera. Culpa de Fabiano.