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A CHEGADA AO OUTRO MUNDO SE ACONTECESSE


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Publicado em 04 de março de 2023
Por Jornal Do Dia Se


Ary Moreira Lisboa

OUTRO DIA aproveitando a ida de minhas irmãs ELOISA HELENA e MARIDY, para Teixeira de Freitas, onde foram fazer compras, aceitei o convite de minha querida amiga Maria Dinê Vitório para passar o dia em sua fazenda SERRINHA, lugar agradável, casa ampla, com um pequeno lago com peixes, um pomar com diversos tipos de frutas, uma acolhida sensacional e muito, muito papo.
Foi um dia maravilhoso, diferente dos habituais, onde passei, principescamente, sobre a rede, lendo, pois não faltaram livros, ouvindo música clássica.
Entre outros assuntos, não poderia ficar ausente o meu ceticismo sobre tudo, o que reverberou para o outro mundo, com ambages e galimatias.
Também, pela sua insistência em ameaçar-me encontrar com outros, lá na eternidade, quando de minha morte.
Se tal acontecer, farei grandes esforços para encontrar-me com vultos históricos, amigos e parentes para averiguar alguns fatos curiosos e apascentar dúvidas:
Por não saber qual o idioma falado no além – a língua padrão oficial do outro mundo, – recorrerei aos bons ofícios de Ruy Barbosa, Antônio Houaiss e Guimarães Rosa que dominavam muitos idiomas, para ajudar-me nos diálogos, com Beethoven, alemão, (a surdez permanece por lá, tal qual a cegueira de Jorge Luiz Borges, ou a gagueira do físico Michael Faraday, caso verdadeira, dispensaria Guimarães Rosa, em troca de um professor de LIBRAS). Aproveitaria o ensejo e a intimidade universal, para perguntar-lhe a quem foi verdadeiramente dedicada sua famosíssima obra FÜR ELISE, se para THERESE MAFALTTI- de quem foi noivo, – ou para FRÄULEIN ELISABETH RÖCKEL sua amiga a quem, pouco antes de morrer, deu um cacho de seu cabelo, encastoado com uma partitura. Ainda perguntaria sua revolta, depois de ter sido informado pelo seu aluno Fernand Reis, em maio de 1804, que Napoleão Bonaparte, havia se coroado Imperador da França, a quem havia dedicada a 3ª Sinfonia, “ERÓICA”, rasgando-a, ao saber que ele se havia declarado Imperador da FRANÇA, bem como, se foi essa a causa de sua não ida para Paris?
Perguntaria ainda, se chegou a confessar para Fernand que havia recebido uma proposta de alta quantia, oferecida pelo príncipe LOBKOWITZ, em troca da dedicatória, de NAPOLEÃO para ele príncipe?
Falaria com Dante, italiano, por intermédio de minha filha Christianne, – Tinha- dispensando Guimarães Rosa, iniciando por saber qual o argumento usado para convencer Caronte, o barqueiro, a atravessar o Rio Aqueronte, um dos cinco rios do o Inferno, e trazê-lo de volta, uma vez que quem o transpõe não volta mais, pois, apenas dois vultos conseguiram a proeza: ele, Dante, e Sísifo, que, em consequência desta façanha, foi condenado a carregar , eternamente, uma enorme pedra até o alto da montanha, que sempre retornava ao princípio.
Também desejaria saber sua reação ao encontrar-se com BEATRIZ, já viúva, pela primeira vez, lá no PARAISO, onde ela o ciceroneou depois de Virgílio tê-lo conduzido pelo INFERNO e pelo PURGATÓRIO, pois tal qual PETRARCA, com Laura, ele somente viu Beatriz uma vez na vida quando ela estava com 15 anos e nunca havia lhe dirigido a palavra. Daria meus parabéns por ele haver reformado e unificado a língua italiana, lá no século XIII.
Virgílio, o mantuano, não deixaria de perguntar como foi o papo dos dois sobretudo, de poesia, a sua sobre a ENEIDA nos dois CANTOS, onde um escravo, no 1º Canto, depois de ser libertado cantou: “libertas quae sera tamen”, (Liberdade ainda que tardia), que os Inconfidentes THOMAS ANTONIO GONZAGA e ALVARENGA PEIXOTO, tomaram como lema da Bandeira de MINAS GERAIS
Para Eloino, o mais indicado para os encontros, perguntaria onde ele colocou aquela certidão de nascimento, que o velho Theodoro Ribeiro de Novaes, escrivão do registro civil, de Itanhem lhe enviou para Salvador, sem constar o seu NOME, pois, certa feita perguntei para Sady Neto, seu filho, onde estaria e ele não soube responder, bem como os demais livros que lhe dei.
Para CAMÕES perguntaria como ele fez para salvar os manuscritos de Os Lusíadas, quando do seu naufrágio sofrido na foz do rio Mekong, quando perdeu sua amada Dinamene, se naquele tempo do século XVI, o plástico não tinha sido inventado, para impermeabilizar o manuscrito. E onde ele nasceu, COIMBRA OU LISBOA? Se não tendo frequentado nenhuma escola superior, onde foi escarafunchar tanto conhecimento?
Já HERÓDOTO, pai da história insistiria em saber onde ele nasceu, uma vez que muitas cidades gregas disputam a primazia de tê-lo como filho, tão ilustre nome.
Para o poeta Francesco Petrarca, com o auxílio de Guimarães Rosa perguntaria onde arranjou ele tanta inspiração para dedicar mais de 386 sonetos para Laura sua platônica amada, a quem nunca apertou a mão e jamais ouviu o som de sua voz, pois, apenas a viu uma única vez, quando tinha ela pouco mais de 14 anos e prosseguiria tentando encontrar outros vultos.
A CERTIDÃO DE NASCIMENTO DE ELOINO, constitui um verdadeiro fato histórico de aberração inaceitável, fruto da ignorância e total falta de atenção. Merece uma descrição sucinta, (já narrada no meu livro).
Morávamos em Salvador, onde estudávamos, Itanhem era muito longe, somente de avião se chegava lá, via Nanuque ou Caravelas. Não tinha correio regular, nem banco. A correspondência era feita por Nanuque, MG. com endereço do Hotel São José, onde meu pai semanalmente tinha que ir, pois era Nanuque a capital do extremo sul da Bahia. A correspondência demoraria um mês para chegar e outro para retornar.
Eloino foi aprovado num concurso para secretaria de educação do estado da Bahia, que exigiu uma certidão de nascimento de verbo ad verbum – (palavra por palavra).
Escreveu, então para meu pai, solicitando uma cópia da bendita certidão de nascimento.
Dois meses depois recebeu uma cópia autêntica com selo e tudo, que por ser o país católico e ainda não laico iniciava:
“CONSTA do LIVRO nº 02 seguinte TERMO:
No ano do nascimento de nosso do senhor Jesus Cristos eu, Theodoro Ribeiro de Novaes, Escrivão do Registro Civil do distrito de Agua Preta, município de Alcobaça, comarca de Caravelas estado Bahia, Brasil, compareceu o cidadão Sady Teixeira Lisboa, comerciante, casado, que declarou o seguinte: que no dia 01 primeiro de dezembro de 1938 nasceu seu filho do sexo masculino, filho de Sady Teixeira Lisboa e Maria Moreira Lisboa, sendo avós paternos Mariano Teixeira da Silva e Emerenciana Teixeira Lisboa, e avós maternos Pedro Moreira d`Alcântara e Maria Roque Moreira”.
A certidão estava escrita manualmente, em quatro laudas de papel almaço, porém, não constava o nome de Eloino. Quando abrimos o envelope e constatamos a aberração, caímos na risada e imediatamente começou outra epopeia de idas e voltas de cartas, pois o prazo para tomar posse estava expirando.
Um documento desse não pode jamais ser olvidado e muito menos desaparecido, apesar do costume do Cartório de Itanhem de incinerar documentos.
Outras perguntas faria lá no além, se tivesse oportunidade, coisa que tenho certeza jamais acontecerá.
Abraços eternos sem visões idiossincrásicas, respeitadas, porém, mas não ajoujadas.

Ary Moreira Lisboa, advogado e escritor

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