A metamorfose

Eu queria ser uma mosca. Só assim, após fantástica metamorfose, poderia acompanhar de perto as animadas caravanas do governador Fabio Mitidieri.

Tenho de me contentar com as fontes de informação oficiais, no entanto. Passo a vista sobre imagem da comitiva enviada ao Qatar, na outra banda da Terra, observo o semblante circunspecto dos nossos abnegados servidores estaduais e penso com meus botões: príncipes!

Entorto o Poema em Linha Reta, assinado por Álvaro de Campos, a fim de sublinhar a distância entre eles, os apaniguados do Governo de Sergipe, e nós, meros contribuintes. Enquanto eles voam sobre os oceanos, sem outro proveito além de provar do bom e do melhor, o populacho paga a conta.

Há sempre uma agenda a ser cumprida, naturalmente. Meses atrás, o governador em pessoa liderou uma alegre comitiva em visita à Irlanda. Chega a ser cômico, mas o pretexto alegado foi o de apresentar aos irlandeses a renda irlandesa produzida em Sergipe.

Enquanto Mitidieri e os mais chegados passeiam, a população empobrece. Os dados publicados pelo jornalista Gilvan Manoel em sua coluna neste Jornal do Dia não deixam margem para dúvida: todos os índices econômicos e sociais colhidos em Sergipe apontam a apatia da administração estadual. Basta lembrar que, na  contramão do Brasil, a insegurança alimentar senta à mesa de quase metade dos sergipanos.

Sim, eu queria ser uma mosca, provar do bom e do melhor, beber do copo do governador, deleitar-me com os restos do privilégio.