A TENTAÇÃO FASCISTA REATIVADA
Publicado em 17 de fevereiro de 2024
Por Jornal Do Dia Se
* Gutemberg A. D. Guerra; Manoel Moacir C. Macêdo; Manoel M. Tourinho
Representantes da elite brasileira sempre estiveram no poder. Desde 1889, depois 1930 e 1964, usurpado na maioria dos casos Manu militari, ou ainda por movimentos pseudo democráticos em 1945, 1985 e 2016, todos afrontando os dispositivos legítimos da democracia, como as Constituições elaboradas por Assembleias Nacionais Constituintes de 1946 e 1988, expressões formais das correntes de pensamento partidário representativos da sociedade brasileira. Importante registrar que as referidas Cartas Magnas foram elaboradas sob inspiração burguesa, com dispositivos de controle e regulamentação dos três poderes e com momentos de avanços na garantia dos direitos aos cidadãos, em padrões civilizados.
Vive-se, no Brasil, permanente atmosfera golpista, com amplo envolvimento da grande imprensa, para satisfazer aos derrotados e insatisfeitos nas eleições de 2014 e 2022. A contestada retirada da Presidente Dilma Rousseff do exercício da Presidência da República, eleita sob o escrutínio popular, foi seguida pela prisão do Presidente Lula, por quinhentos e oitenta dias, correspondendo a um ano, sete meses e um dia. Liberado depois de absolvido nos vinte e seis processos dos quais tinha sido acusado durante a campanha difamatória, fora a suspeição de um julgamento imparcial com vícios no devido processo legal e na presunção de inocência.
A direita conservadora não desanimou. Embora derrotada nas eleições presidenciais, manteve-se na dianteira pela via do sequestro das mídias sociais intensificando os ataques veementes à democracia, promovendo atos contra a Constituição e agressões ao Supremo Tribunal Federal (STF), ao Congresso Nacional e à Presidência da República. Uma coalisão restabeleceu a normalidade política, associada à direita liberal, ao centro, e a esquerda, nas diversas matizes partidárias e ideológicas. Governo de aliança democrática caracterizado como uma frente ampla. Movimento de larga amplitude política, que merece ser estudado.
A reeleição do Presidente Lula pela terceira vez, fato inédito na política brasileira, concomitante à derrota da reeleição do presidente anterior, fato igualmente singular no país na pós-ditadura militar, não foi bastante para frear os ânimos dos inconformados que continuam ativos em métodos e estratégias, alguns pelas vias dos algoritmos tóxicos, da mentira e da discórdia, para impedir a posse e governabilidade do Presidente da República. Continuam ameaçando o equilíbrio da democracia, com atos espúrios à Constituição, aos poderes e em particular ao STF. Existe apenas uma opção: as suas próprias convicções.
Não estão foram do alcance do ódio os povos tradicionais, incluídos os indígenas, quilombolas, camponeses com pouca ou nenhuma terra,religiosidades não cristãs, manifestações de gêneros não binários e ações militantes legais como as ocupações de terras que não estejam em acordo como princípio constitucional da função social da propriedade. Exemplos não faltam para ilustrar a homofobia e o feminicídio, além da depredação bárbara do patrimônio público em 8 de janeiro de 2023, fartamente documentada, com a conivência de setores conservadores e de representantes de estamentos estatais. A normalidade ainda não foi alcançada. A inconformidade e a polarização persistem com provocações às forças da legalidade, assassinando e maltratando indígenas, trabalhadores rurais e populações empobrecidas como pretos, periféricos e homossexuais.
Não são ações isoladas de setores da direita brasileira, mas de um movimento conservador internacional, com recursos tecnológicos sofisticados de indução e convencimento, para garantir retrocessos civilizatórios conquistados e construídos a custo de muito suor e sangue ao longo da história da humanidade. Movimento financiado pelo capitalismo internacional, governos autoritários e intelectuais de extrema-direita, para dominar as nações emergentes e com potenciais de desenvolvimento por disporem de área territorial ampla,populações numerosas, biodiversidade estratégica, indústria de base e histórico de rebeliões duramente reprimidas. Arena global com requintes de ruínas e retrocesso civilizatório.
Urge um enfrentamento pacífico, mas firme, frente a essa tendência conservadora que lembra a tese do Professor Hélgio Trindade publicada como livro intitulado “A tentação fascista no Brasil: imaginário de dirigentes e militantes integralistas” na década de 1930, sob pena de encurtamento de vidas ao longo dos próximos anos. Estímulos a revisitar a teoria “Centro versus Periferia”, ou quem sabe partir para a “Independência ou Morte”.
* Gutemberg A. D. Guerra; Manoel Moacir C. Macêdo e Manoel M. Tourinho são engenheiros agrônomos e PhDs.