Terça, 16 De Abril De 2024
       
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A Venezuela sumiu do mapa


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Publicado em 11 de agosto de 2021
Por Jornal Do Dia


Higiene é uma questão de classe

 

* Rian Santos
O tanque de Bolsona
ro a expelir fumaça 
na Praça dos Três Poderes evoca a lembrança de um vazio geográfico dos mais eloquentes. A Venezuela sumiu do mapa. Até outro dia, a ferida aberta ao sul do equador merecia a atenção de todos os brasileiros. Os alinhados à direita alertavam sobre os perigos de vida e morte do populismo. Os partidários da esquerda insistiam na aliança histórica com o chavismo, apontando o dedo gordo para o imperialismo ianque. Alheia a uns e outros, a população governada com mão de ferro perdia peso, morria de fome.
Reminiscências de uma vida passada. Para todos os efeitos, com exceção de uma notícia aqui, outra ali, não há mais Venezuela. Ninguém diz uma palavra sobre os abusos cometidos pelo regime de Maduro. Tudo indica, o País inteiro afundou em petróleo.
De uma hora para outra, a Venezuela virou um problema exclusivo dos venezuelanos, gente como o fotógrafo Cao Sanchez, sem outra alternativa além de encarar o fogo cruzado de peito aberto, as mãos erguidas entre o autoritarismo e a carência absoluta de recursos, as prateleiras vazias. Lá, higiene é uma questão de classe.
Em uma série de fotografias, Sanchez surpreende os venezuelanos abastados ostentando produtos importados: creme dental, detergente, café em pó. Os venezuelanos bem de vida, profissionais liberais com dinheiro no banco, recorrem a empresas transportadoras com atuação internacional para encher as despensas. A imagem não choca, como as costelas à mostra de uma criança esquálida. Mas, ainda assim, denuncia o silêncio cúmplice da comunidade internacional. Em qualquer circunstância, os bem aquinhoados tomam banho, uma exigência da paz social. 
Não é fato vulgar, um país sumir do mapa, em um passe de mágica. Vinte e oito milhões de pessoas viraram fumaça. Os grandes feitos de Houdini não chegaram a tanto. Sobre o grande vazio cartográfico na cabeceira da América do Sul resta agora a má consciência do mundo civilizado.
* Rian Santos, jornalista

* Rian Santos

O tanque de Bolsona ro a expelir fumaça  na Praça dos Três Poderes evoca a lembrança de um vazio geográfico dos mais eloquentes. A Venezuela sumiu do mapa. Até outro dia, a ferida aberta ao sul do equador merecia a atenção de todos os brasileiros. Os alinhados à direita alertavam sobre os perigos de vida e morte do populismo. Os partidários da esquerda insistiam na aliança histórica com o chavismo, apontando o dedo gordo para o imperialismo ianque. Alheia a uns e outros, a população governada com mão de ferro perdia peso, morria de fome.
Reminiscências de uma vida passada. Para todos os efeitos, com exceção de uma notícia aqui, outra ali, não há mais Venezuela. Ninguém diz uma palavra sobre os abusos cometidos pelo regime de Maduro. Tudo indica, o País inteiro afundou em petróleo.
De uma hora para outra, a Venezuela virou um problema exclusivo dos venezuelanos, gente como o fotógrafo Cao Sanchez, sem outra alternativa além de encarar o fogo cruzado de peito aberto, as mãos erguidas entre o autoritarismo e a carência absoluta de recursos, as prateleiras vazias. Lá, higiene é uma questão de classe.
Em uma série de fotografias, Sanchez surpreende os venezuelanos abastados ostentando produtos importados: creme dental, detergente, café em pó. Os venezuelanos bem de vida, profissionais liberais com dinheiro no banco, recorrem a empresas transportadoras com atuação internacional para encher as despensas. A imagem não choca, como as costelas à mostra de uma criança esquálida. Mas, ainda assim, denuncia o silêncio cúmplice da comunidade internacional. Em qualquer circunstância, os bem aquinhoados tomam banho, uma exigência da paz social. 
Não é fato vulgar, um país sumir do mapa, em um passe de mágica. Vinte e oito milhões de pessoas viraram fumaça. Os grandes feitos de Houdini não chegaram a tanto. Sobre o grande vazio cartográfico na cabeceira da América do Sul resta agora a má consciência do mundo civilizado.

* Rian Santos, jornalista

 

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