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ARGENTINA LAVA A ALMA DA AMÉRICA DO SUL


Publicado em 20 de dezembro de 2022
Por Jornal Do Dia Se


Vânia Azevedo

A Copa do Mundo do Catar encerra mais um capítulo de sua história, depois de uma final eletrizante entre Argentina 3 x 3 França, onde a Argentina (após vencer nos pênaltis) lava a alma da América do Sul, que desde 2006 vê equipes europeias (Itália, Espanha, Alemanha e França, respectivamente) conquistarem o título de melhor do mundo. O resultado reflete a superioridade de ambas equipes, ainda que tenham chegado ao mundial ofuscadas pelo favoritismo do Brasil, alardeado pela imprensa brasileira, e reforçado pelo comportamento de celebridades a que se propôs a seleção de Tite.
Com o apoio da imprensa esportiva, mais uma vez o torcedor brasileiro foi iludido com avaliações que colocavam a emoção acima da razão, impedindo-os de perceber que o nosso retrospecto era brilhante para uma competição na América do Sul, jamais a nível de Copa do Mundo. Deixamos a desejar na preparação, e não foi por falta de talentos individuais, visto que, como na Fórmula I, tínhamos uma magnífica Ferrari, supostamente o melhor carro, mas o piloto não deu conta.
Apresentando um retrospecto de 80 jogos com apenas 6 derrotas, sem apresentar um só confronto com equipes europeias (sabidamente detentores de excelente nível técnico), o Brasil demonstrava um favoritismo questionável,visto que, em sua preparação jamais enfrentou equipes desse nível. Ainda assim, a imprensa nacional (comentaristas esportivos, inclusive técnicos e até mesmo jogadores), comportavam-se como torcedores, esquecidos de que nosso retrospecto contra equipes europeias vinha sendo decepcionante,impedindo-nos de obter resultados satisfatórios nas edições anteriores da Copa do Mundo.
No entanto, faziam coro quando preferiam desprezar essa evidência, acreditando que o simples fato de os jogadores atuarem em grandes clubes da Europa já qualificava a equipe ao título. Ledo engano. Esqueciam a importância do técnico (que sempre deixou a desejar) e o quanto de sua capacidade é empregado em uma equipe diante das situações que surgem durante a competição. Detalhe que não passou despercebido ao bom entendedor no que diz respeito à sagacidade do técnico argentino, que comandou sua equipe de forma inteligente, adequando a equipe às necessidades impostas por cada adversário, numa trajetória de rendimento ascendente, digna de uma equipe com foco, determinada a ser campeã.
E cá estamos nós, brasileiros, mais uma vez a lamentar. Sabíamos que tínhamos a melhor equipe do mundo, é fato. Mas quem disse que ter as melhores peças é suficiente para ganhar o jogo?
Não. Aí é que entra o feeling do técnico: a capacidade de saber o que fazer com as peças de que dispõe. A percepção necessária para armar a equipe a cada partida conforme as exigências do adversário. E o mais importante: fazer as devidas mudanças no decorrer do jogo, conforme o modelo de jogo imposto. É essa percepção de jogo e a capacidade de impor as modificações necessárias que diferencia o bom técnico.
De maneira que, nesse momento é lícito fazermos um questionamento sobre o futebol brasileiro, teoricamente a maior força do futebol sul-americano. Tendo como maior evidência os últimos três anos, onde só tivemos equipes brasileiras disputando a final da Taça Libertadores das Américas, menosprezamos o potencial de “los hermanos”.A nossa superioridade tem sido demonstrada cada vez que os clubes se enfrentam. Porém, quando se trata da seleção argentina, já não demonstramos essa superioridade (foram três derrotas das seis que tivemos). Basta lembrarmos que o artilheiro do Campeonato Brasileiro do corrente ano (Germano Cano) é argentino e não teve lugar na equipe argentina nem mesmo no banco de reservas. Será mesmo que somos tão superiores assim?
A Copa chega ao seu final e começam os questionamentos em torno de um nome para substituir Tite. Enquanto jogadores, torcedores e patrocinadores palpitam, os nossos técnicos destilam sua aversão aos técnicos estrangeiros. Os questionamentos são vários, mas o momento cobra dos nossos técnicos uma reflexão sobre suas carreiras e o que mudou em termos de atualização e capacitação. O que têm feito para acompanhar a espiral de mudanças pela qual passou o futebol mundial?
Se um dia a nossa escola foi referência para técnicos do mundo inteiro, o mesmo já não se aplica nos dias de hoje. A escola portuguesa, tendo Mourinho como referência, ganhou o mundo e hoje tem o respeito dos demais profissionais. A escola Italiana segue bem representada por técnicos que fizeram história do nível de Arrigo Sacchi, mentor de Carlo Ancelotti. Até os técnicos argentinos acompanharam a evolução do futebol e tiveram destaque em grandes equipes fora do seu território, a exemplo de Marcelo Bielsa, Maurício Pellegrino, Diego Simione, Santiago Solari, Maurício Pochettino, etc.. Enquanto isso, os nossos técnicos só têm espaço no Oriente Médio, onde são bem remunerados, porém, nada acrescenta profissionalmente devido ao nível do futebol por lá praticado.
Por fim, estamos cansados de ver a seleção brasileira ser comandada por técnicos ditos disciplinadores, pois está claro que isso não é suficiente. Precisamos de um técnico atualizado e que faça a seleção brasileira jogar um futebol capaz de se impor a qualquer equipe do mundo; que tenha autonomia para agir, e o respeito seja imposto pelo seu currículo recente e sua capacidade e liderança. Só então poderemos voltar a sonhar com o hexa.

Vânia Azevedo é professora.

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